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segunda-feira, 22 de março de 2010

Romance da ceifa:
Berbenita

Campos verdes, verdes campos,
Bem os vejo verdegar,
Quem me dera naquele monte,
Quem em dera naquele vale,
Quem me dera mais além,
Na casinha de meu pai.
- Se as saudades são grandes
O caminho para lá vai,
- Mas dom Pedro é meu marido,
Quem lhe porá de jantar?
- Dom Pedro é meu filho,
Eu lhe porei de jantar,
Chegou dom Pedro da caça,
Á mesa se foi a sentar,
- Tu em que pensas meu filho?
- Tu em que está s a pensar?
- Estou pensado na Berbenita,
Que não me põe de jantar.
- Essa perra traidora,
Em casa de seu pai vai,
A mim me chamou perra velha,
E a ti filho de mau pai.
Minha bênção te não deito,
Enquanto a não fores matar,
Chamou pelos seus criados,
Por o mais liberal,
Aparelha-me dois cavalos,
Depressa não devagar
Que jornadinhas de três dias,
Em três horas se hão-de andar.
Montou num cavalo ruivo,
Logo se pôs a galopar,
Dali para Moribandes,
Não tardou em lá chegar,
Três voltas deu ao palácio,
Não encontrou por onde entrar,
Ao cabo das três voltas,
Sua sogra o viu espreitar,
- Que fazes aqui dom Pedro,
Que fazes neste lugar?
- Berbenita é minha esposa,
Eu a venho buscar.
- Paradinha de três dias,
Para onde ma queres levar?
- Que parida que valeira,
Aqui não lhe vai ficar.
Ele montou no cavalo ruivo,
Ela num potro branco real,
Dali para sua casa,
Se puseram a galopar,
Chegou ao meio do caminho,
Ela se põs a gritar,
- Olha para trás dom Pedro,
Olha se queres olhar,
O teu cavalo é branco,
E ve-de-lo vermelejar,
- Adiante adiante Berbenita,
Adiante noutro lugar,
Haverá manjares finos,
Para o teu corpo consolar,
Eu não me importo que me mates,
Nem tenho pena de morrer,
Só tenho pena do meu filho,
Que outra mãe não vai a ter,
- A quem deixas os teus vestidos?
- A quem os hei-de deixar?
Deixo-lhos às tuas irmãs,
Que bem lhe hão-de ficar.
- A quem deixas os teus sapatos?
- A quem os hei-de deixar?
Deixo-lhos às tuas irmãs,
Que bem os hão-de gastar.
- A quem deixas o teu menino?
- A quem o hei-de deixar?
- Deixo-o à tua mãe,
Que bem o há-de estimar.

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