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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010



O Pobre pediu ao rico

Dá-me cá um bocadinho,
Tu que tens o pão na mão,
Trabalho eu e gozas tu,
Eu tenho fome e tu não.

Tens fatos para vestir
E tens um grande aposento,
Eu que ando ao rigor do tempo,
Nada tenho para vestir,
Não te aflige o meu carpir,
Sendo eu um cordeirinho,
Nem que eu te peça com carinho,
Sempre me tratas com abuso,
Pois desse pão que eu produzo,
Dá-me cá um bocadinho.

-Trabalho de noite e de dia,
Não tenho na vida outro gozo,
Já estou tuberculoso,
Não posso como podia,
Já perdi a valentia,
Vivo sem satisfação,
Eu operário e tu patrão,
A ti nada te consome,
Preciso mata-me a fome,
Tu que tens o pão na mão.

-Trabalho apenas para ti,
Meu trabalho tu não entendes,
O meu produto tu vendes,
Fruto que eu nunca mais vi,
Por isso desde que nasci,
Tenho vivido quase nu,
Tu tens dentro do teu Baú,
Fatos cortados da traça,
É esta a minha desgraça,
Trabalho eu e gozas tu.

-Sendo eu um ser humano,
Tal e qual como tu és,
Tu não podes molhar os pés,
E eu descalço há tanto ano,
Armas – me em tudo engano,
Homem duro sem coração,
Levas o suor e o pão,
Para viver na opulência,
Não te pesa a consciência,
Tu teres pão e eu não.

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