Translate

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

PARA A ANA

No Porto a Ana nasceu,
No Porto se baptizou,
No Porto brincou, cresceu,
No Porto se licenciou.

Mas que bela historiadora,
Acaba de ser formada!
Ninguém lhe chame doutora,
Porque ela fica zangada.

Há quem lhe chame menina,
Embora seja uma senhora.
Continua a ser traquina,
Apesar de ser doutora.

Acaba de ser formada,
Concluiu o estudo.
Para provar que é letrada,
Basta mostrar o canudo.

Diz que é muito inteligente,
De esperta não tem nada!
Pensa enganar toda a gente,
Ela é que sai enganada.

Para dar aulas não tem jeito,
Muito menos competência,
Mas o seu pior defeito,
É ter pouca inteligência.

É uma moça instruída,
Uma doutora em resumo,
É como um laranja espremida,
Sem ter caroço nem sumo.

No campo a vida é bela,
Quando se ama a profissão,
Dar aulas não é com ela,
Prefere a escavação.

Esta doutora tripeira,
De portista não tem nada,
Mais parece uma boieira,
A conduzir uma manada.

De saco ao ombro e pá na mão,
Lá vai ela campos fora,
Escavando o duro chão.
Onde a riqueza não mora,

Admira a natureza,
Arranca silvas, colhe amoras
Á procura de riqueza,
Que os pobres deitaram fora.

Doutora assim nunca vi,
Mal distingue a pá da enxada,
Escava aqui, escava ali,
Procura, mas não acha nada.

Que belo entretimento!
Mas no fundo o que importa,
É a gente ir fazendo,
Aquilo de que mais se gosta.

Se gostas de escavar,
Deixa-te estar, que estás bem!
Nunca aulas queiras dar,
Para não enganar ninguém.

Ferreira Augusto

Sem comentários: