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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Despique da sobrinha e do tio João

- Bom dia tio João!
Está aqui sua sobrinha,
Você que é tão ricalhão
E eu tão pobrezinha,
Não me vou daqui embora,
Sem levar a moedinha.

- Tenho muito que fazer,
E não recebo ninguém,
Só te posso receber
Para a semana que vem,
Podes ficar a saber,
De mim não levas vintém!!

- Eu venho de longe, longe,
O meu tio visitar,
Não tinha que lhe trazer,
A quem tem tanto que dar!
Você mecê ó meu tio,
Bem me podia ajudar.

- Ouve sobrinha Gizela,
Bem sabes que eu sou solteiro,
Vivo em casa emprestada,
Por ganhar pouco dinheiro!
Repartido às mãos cheias,
Não chega para o mês inteiro.

- Não diga que não tem nada,
Eu digo que tem riqueza,
Tem uma quinta em Parada,
Cinco quintais na Serzeda,
Tem uma casa alugada,
Que tem brasões de nobreza!

- Tenho muitos amiguinhos,
Nesta vasta região!
Desde Mós, a Oleirinhos,
Desde Vinhais, a Milhão,
Todos querem ser sobrinhos
E herdeiros do tio João.

- A sua grande fortuna,
Mais tarde é prós seus herdeiros,
Podia fazer escritura,
Àqueles mais verdadeiros,
Quando for para a sepultura
Eu pagarei aos coveiros.
- Mas que sobrinha tarada,
Some-te da minha vista!
Tenho dinheiro emprestado,
Se queres mostro-te a lista!
Tu não queres trabalhar,
Para pedires és boa artista!

- Você mecê ó meu tio,
Parece que está zangado!
Guarde lá o seu dinheiro,
Eu não lho peço emprestado!
Mais quero ser pobrezinha,
Que sofrer de mau-olhado!

- Eu tenho muita família,
No distrito de Bragança,
Todos querem receber,
A minha pequena herança!
Para ti minha sobrinha,
Eu não vou deixar lembrança!

- Nunca na vida pensei,
Ter um tio tão ingrato,
Que calça e veste de ouro
E eu do tecido barato!
Enquanto ele cá é rei
Eu no bosque corto mato!

Ferreira Augusto

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