Aquela Viagem
Conheci a padeirinha,
Numa tarde de calor.
Do Porto vinha sozinha,
De consultar o doutor.
Terça-feira era o dia,
Do mês de Julho bem sei,
Enquanto eu tiver vida,
Jamais o esquecerei.
Mal pensou que eu via mal,
Quando ao pé de mim chegou.
Do Porto até Vila Real,
Coisas tristes me contou.
Contou-me a sua desgraça,
Com vontade de chorar,
O sol teimoso na vidraça,
Não cessava de escutar.
Desgostos que a vida tem,
Dizia ela para mim,
Mais aqui, ou mais além,
Tudo terá o seu fim.
Um suor frio escorria,
No seu rosto amargurado.
Falando ela dizia,
Vivi um triste passado.
De um momento para o outro,
A sua voz se apagava.
Eu com orelhas de mouco,
Fingia não ouvir nada.
Eu perguntei-lhe então,
Se já estava cansada?
Ela me disse que não,
Que ia doente e enjoada.
De repente ouvi um aí,
Que me fez estremecer.
Do seu peito frio sai,
Um gomito de morrer.
Guardanapos eu levava,
Dentro do meu saco à mão,
Com tanta ternura lhos dava,
Ao ver a sua aflição.
Que bons amigos eu tenho,
Deus do céu sempre me guia.
Sendo para ela um estranho,
Ela muito me agradecia.
Aquilo foi um martírio,
Durante uma hora e tal,
Solta um suspiro de alívio,
Ao chegar a Vila Real.
Ao chegar a Vila Real,
Ela falar mal podia,
Com um sorriso afinal,
Ela de mim se despedia.
Foi-se embora para Bragança,
Eu segui para Vinhais,
Ainda trago na lembrança,
Os seus lamentos e ais.
Isto tudo se passou
Numa tarde de verão.
Dessa viagem,
Ficou somente esta recordação!!
Ferreira Augusto
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