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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Aquela Viagem


Conheci a padeirinha,

Numa tarde de calor.

Do Porto vinha sozinha,

De consultar o doutor.


Terça-feira era o dia,

Do mês de Julho bem sei,

Enquanto eu tiver vida,

Jamais o esquecerei.


Mal pensou que eu via mal,

Quando ao pé de mim chegou.

Do Porto até Vila Real,

Coisas tristes me contou.


Contou-me a sua desgraça,

Com vontade de chorar,

O sol teimoso na vidraça,

Não cessava de escutar.


Desgostos que a vida tem,

Dizia ela para mim,

Mais aqui, ou mais além,

Tudo terá o seu fim.


Um suor frio escorria,

No seu rosto amargurado.

Falando ela dizia,

Vivi um triste passado.


De um momento para o outro,

A sua voz se apagava.

Eu com orelhas de mouco,

Fingia não ouvir nada.


Eu perguntei-lhe então,

Se já estava cansada?

Ela me disse que não,

Que ia doente e enjoada.


De repente ouvi um aí,

Que me fez estremecer.

Do seu peito frio sai,

Um gomito de morrer.


Guardanapos eu levava,

Dentro do meu saco à mão,

Com tanta ternura lhos dava,

Ao ver a sua aflição.


Que bons amigos eu tenho,

Deus do céu sempre me guia.

Sendo para ela um estranho,

Ela muito me agradecia.


Aquilo foi um martírio,

Durante uma hora e tal,

Solta um suspiro de alívio,

Ao chegar a Vila Real.


Ao chegar a Vila Real,

Ela falar mal podia,

Com um sorriso afinal,

Ela de mim se despedia.


Foi-se embora para Bragança,

Eu segui para Vinhais,

Ainda trago na lembrança,

Os seus lamentos e ais.


Isto tudo se passou

Numa tarde de verão.

Dessa viagem,

Ficou somente esta recordação!!


Ferreira Augusto

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