Minha vista não é larga,
Nem minha a sabedoria,
Mas tenho jeito para enversar
Fenómenos do dia a dia.
Há muito tempo que eu não escrevia
Versos desta natureza,
Quis hoje a demografia
Que eu lhe fizesse esta surpresa.
Quantos eram, quantos somos
Eu desejava saber.
As contas não batem certo
Fico sem nada entender.
Se eu fosse Cientista,
Não queria outra profissão.
Seria o melhor artista
Em estudos da população.
Se eu fosse Cientista,
Estudava a demografia:
Pedia ajuda à história
E dados à Geografia.
Quando Deus criou o Mundo
Tudo era informe e em vão.
O mar imenso e a terra
Jaziam na escuridão.
Deu Deus um sopro divino,
Apareceu das trevas a luz,
Apareceu no Céu a lua
Com seu brilho que seduz.
O sol rompeu em seguida
Com raios de esplendor
Cantavam nas árvores as aves
Mil hinos ao criador.
Deus então para completar
A sua obra e criação,
Lembrou-se de criar o homem
Com a mais bela perfeição.
Assim apareceu no Mundo
O nosso velho pai Adão
Sem nenhuma companhia
Rei de toda a criação.
Vendo-se no Mundo sozinho
Pediu a Deus companheira.
Eis que Deus lhe concedeu
Eva, pura e verdadeira.
Deus no início do Mundo
Somente este casal criou.
O Mundo hoje tem tanta gente
Como tudo se passou?
Deste casal, puro e santo
Quanto filho foi gerado,
Espalharam-se pela terra
O Globo foi habitado.
Foi crescendo pouco a pouco,
A população universal.
Para onde caminha
Este Mundo afinal?
Estuda-se população
Cada vez com mais afã,
Para saber quantos eram
E quantos serão amanhã.
No Século dezassete,
Tudo de mal aconteceu.
Houve fome, peste e guerra,
E a população não cresceu.
Os invernos eram longos,
A semente apodrecia,
Com ele trazia a fome
Oh quanta gente morria!
Chuvosos eram os invernos,
Na primavera, vinha a geada
Os frutos não germinavam
E a negra fome apertava.
A taxa da mortalidade
Era alta, podem querer.
Oh quanta gente morria
Sem trinta anos viver.
O Trigo não germinava,
A cevada também não.
Quer nos campos, quer nas cidades
A todos faltava o pão.
Quer a fome, quer as guerras,
Traziam as epidemias,
Quer nos campos, quer nas cidades
As famílias eram atingidas.
Só um corpo resistente
Da morte escaparia
Quem provocou esta mortandade
Foi a negra Epidemia.
A taxa da natalidade,
Também sofreu algum dano.
Oh quantos bebés morriam
Sem completar um ano.
Mal haja os anos ruins,
E os maus temporais,
Pois no Século dezassete
Causaram penas e ais.
Quer invernos, quer os verões
Traziam grande desgraça,
Só fica destruição
Quando a tempestade passa.
Com tanta gente a morrer,
Havia grandes sofrimentos.
Diminuía a população
Não havia casamentos.
Faziam-se orações,
Quer nos campos, quer nas cidades
Pedia-se a Deus do céu,
Que afastasse a tempestade.
Que desgraça se abateu,
Na Europa Seiscentista.
Tudo iria investigar
Se eu fosse cientista.
O dezassete levou,
Muita alma para a sepultura,
Eis que o dezoito chegou
Com ele, veio a fartura.
O século dezoito chegou
Com ele veio a bonança
A população aumentou
Na Inglaterra e na França.
O dezassete já lá vai
Eis que o dezoito chegou,
Aumentou a população
O barómetro disparou.
Nos campos da Inglaterra
Houve uma revolução,
A terra produziu mais
Aumentou a produção.
Os campos bem adubados
Mais produtos produziam,
A gente bem alimentada
Ó quantos bebés nasciam!
Com o decorrer dos anos
Desenvolveu-se a medicina,
Houve melhor higiene
Descobriram-se as vacinas.
Fizeram-se roupas de algodão,
E melhores habitações
Com o uso do sabão
Desapareceram as infecções.
Com o progresso da medicina
E o aumento da produção
Cresceu a demografia
Houve grande explosão.
Com o decorrer dos anos
Houve outra revolução
Aconteceu na Inglaterra
A do ferro e do carvão.
Já havia mão-de-obra
Para nas fábricas trabalhar
Cresceram as zonas urbanas
E as casas para habitar.
Com esta revolução
Surge em cena o milionário
As coisas correram mal
Somente para o operário.
Os salários eram baixos
Sem direito à assistência
Viviam em casas imundas
Propicias para a doença.
Aumentou a população
Com ela veio a pobreza
Uns vão morrendo à fome
Outros mergulham na riqueza
Têm trabalhos precários
Sofrem a descriminação
Rejeitados da sociedade
Da saúde e da educação.
Está fincada na memória
Desta humana geração
Ao longo de toda a história
Sempre houve emigração.
No século quinze começou
A diáspora portuguesa.
Os que saíram à pressa
Não voltaram com certeza.
Por todos os continentes
Portugal emigrantes tem
Os portugueses são resistentes
Engrandecem a pátria mãe.
Portugal hoje tem Emigrantes
Emigrantes tem Portugal agora
Todos eles vão sofrendo
Discriminações a toda a hora.
Portugal tem Imigrantes
Brasileiros e africanos
Chineses e romenos
Moldavos e ucranianos.
Portugal tem emigrantes,
Portugal Imigrantes tem:
A dor que os portugueses sofreram,
Sofrem estes outros também.
Quantos debates têm feito
As poderosas instituições
Defendendo os direitos
Das grandes Imigrações.
Os direitos estão escritos
Em cartas são para cumprir
Há denúncias de maus-tratos
Mas ninguém as quer ouvir.
Tanta coisa se tem feito
Para os Emigrantes defender
Mas neste mundo insatisfeito
Muito mais há que fazer.
Os países têm Emigrantes
Espalhados pelo mundo inteiro:
Uns vão para melhorar a vida
Outros pela ambição do dinheiro.
Houve aculturação,
O folclore português
É dançado pelo suíço
Pelo Alemão e o Francês.
Houve aculturação
Alteraram-se as paisagens
Casou o negro com o branco
Fez-se assim a mestiçagem.
Como é feita a integração
Nos países de acolhimento
Por vezes a emigração
É votada no esquecimento.
Gostaria de investigar
Os fenómenos migratórios
Ao longo de toda a história
Chegaria a estudos notórios.
Teria dados concretos
Chegaria a conclusões
Mas os dados não batem certos
Em relação às populações.
A população teve
Um crescimento profundo
Se não fossem as guerras
Não se cabia no mundo.
É grave a situação
Com o desemprego a aumentar
O mundo está louco e cego
Com tanta boca para alimentar.
Eis que as cidades cresceram
Os campos estão desertos
Como tudo aconteceu
É estudo para os espertos.
Por todo o lado existem
Emigrantes explorados
Por vezes os seus direitos
Pelos dirigentes ignorados.
Os homens escamoteiam
Os valores ancestrais
Todos os dias se cometem
Injustiças sociais.
A população de um país
É fácil de contar
Mas a do mundo inteiro
Faz a cabeça pensar!
Contei as pessoas todas
Fui de país em país
Os dados não batem certo
Que rico trabalho eu fiz!
Não há sábio que diga
Quem criou o Universo
O mundo é tão antigo
Cada vez mais complexo.
A religião fala de Deus.
A História da evolução.
Não tenho dados concretos
Continua a investigação.
A história nada comprovou
A religião também não
Vamos ver se a ciência
Se um dia terá razão!
Meu relatório está feito
Quero Excelente na avaliação
Saio muito satisfeito
Desta acção de formação.
Já mais irei esquecer
Esta acção enriquecedora
Deixo esta recordação
Para tão experiente formadora.
Ferreira Augusto
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