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terça-feira, 20 de abril de 2010

Romance da ceifa:
FREI JOÃO

Bem se passeia o frei João,
De manhã, pela geada,
Abotoando os botões,
Tocando na sua guitarra,
Á porta da moreninha,
Foi fazer a serenata.
Abre-me a porta morena,
Morena mulher casada,
Se não me abres a porta,
Não és morena nem nada!
- Como ta eu hei-de abrir, D
om João da minha alma,
Se menino tenho nos braços,
Marido tenho ilharga,
Tenho um aporta que roje,
E uma cadela que ladra.
- Á cadela dá-lhe leite,
Á porta deita-lhe água,
Ao marido manda-o à caça,
Estando eles nestas razões,
O marido acordava,
- Com quem é ó moreninha,
Com quem é essa batalha?
- É com a moça da forneira,
Que veio ver se amaçava,
Se amaça pão centeio,
Que lhe deite pouca água,
- Se amaça pão de ló,
Que lhe deite acostumada.
- Levanta-te ó meu marido,
Levanta-te e vai à caça,
Olha que não há melhor coelho,
Coelho da madrugada.
Ainda ele ali estava,
Muito bem ela se preparava,
Para casa do frei João,
Não fugia, que voava.
Pegou nela nos seus braços,
Com que força a apertava,
Deu-lhe vinho, deu-lhe mel,
Daquele que rendi a casa,
Pegou nela nos seus braços,
Na sua cama a deitava,
Os apertões eram tantos,
Que toda a casa abanava.
Foi embora para casa,
E seu marido encontrava,
- De onde vens ó moreninha,
De onde vens tão alvada,
- Fui ouvir missa nova,
Que frei João a cantava.
- Marido se me queres bater,
Bate-me com vara de marmeleiro,
Pois até aqui eras meio corno,
Agora és corno inteiro!
- Lá te vai lança azagada,
Direita ao coração,
Para não te voltares a ver
Nos braços do Frei João.

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