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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Casamento Atribulado

Senhores eu vou contar
Mais uma história a meu jeito,
Aconteceu em Tuizelo,
Numa casa sem respeito.

É mais um caso a meu jeito,
Estes casos eu lamento,
Foi na cãs do Viroito,
No casamento da Ana.

Dia trinta e um de Maio,
Dia de muita alegria,
Toda a gente estava em festa,
Lá na minha freguesia.

Realmente era de ronca,
Só que teve um triste fim,
Nunca se viu em Tuizelo,
Outro casório assim.

Foi grande o falatório,
Por toda a freguesia,
Causado pelo casório,
Da Jovem Ana Maria.

O dia estava claro,
Mas de repente ficou escuro,
O que causou tudo isto,
Foi o vinho ser maduro.

Até à hora do jantar,
Tudo correu normalmente,
Depois do lanche findar,
Tudo se tornou indiferente.

Quando a noite chegou,
Um problema surgiu,
Por causa da mulher tonta,
A bomba explodiu.

A bomba explodiu,
Por causa dos convidados,
Que comiam e bebiam,
Como lobos esfomeados.

A Fernanda como fera,
A todos queria morder,
Por ver aquela gente toda,
Em sua casa a comer.

Eram cem os convidados,
Entre casados e solteiros,
Comeram-lhe oitenta pães,
Dez leitões e oito carneiros.

Para acalmar tal calor,
Água no fogo se deitava,
Por causa de certo humor,
Começou tudo à batatada.

O Avelino cria a “goga”,
A Fernanda o dinheiro,
O pobre do Zé escuro,
Apanhou com um candeeiro.

O Zé era o rei da festa,
Até andava enfeitado,
Trazia na sua testa,
Um lampião pendurado.

Ninguém fale mal do Zé,
Pois era o mais educado,
Por ver aquele espectáculo,
Sentia-se envergonhado.

Ó pobre, pobre Fernanda,
Vestidinha a preceito.
Romperam-lhe a blusinha,
Por um triz não foi o peito.

Ao ver a blusa rota,
Logo se pôs a chorar,
Dizia para a mãe do noivo,
Seis contos tem de me dar.

Essa fera venenosa,
Velhota desinquieta,
Por milagre não mordeu,
A sogra da sua neta.

É uma vergonha,
Disse então retornada,
Cuidado não partam a loiça
Alguma é emprestada.

Depois de apagar o fogo,
Foram a limpar os cacos,
Partiram oitenta copos,
Seis canecas e cem pratos.

Chegou o padre Alberto,
Novamente para bailar,
Mandou ir ligar a luz,
Não a deixaram ligar.

Não a deixaram ligar,
Ele até fica a tremer,
Daqui me vou retirar,
Algo vai acontecer.

O padre Alberto rezava,
A Sagrada escritura,
Pedia a Deus que deitasse,
Água benta em tal fervura.

O padre Alberto rezava,
A oração de Jesus,
Como não havia milagre,
Fugiu para Santa Cruz.

Começou a escurecer,
Veio forte trovoada,
Começou a cair pedra,
Sobre a gente convidada.

A pobre Ana coitada,
Também se pôs a mexer,
Foi para cima de um tractor,
Sem saber o que fazer.

A tonta da mãe da Ana,
Gritava lá do altinho,
Leva para Santa Cruz,
A dar beijos ao Tavinho.

Chovera muitos insultos,
Palavrões da moda,
Até chamaram à Ana,
A maluquinha da roda.

A Ana estava tristonha,
Um pouco amarelada,
Despediu-se dos amigos,
Bastante envergonhada.

A Ana também tinha pena,
Da cama que ali deixava,
Fora feita a preceito,
Para passar a noitada.

A cama fora feita,
Por duas moças formosas,
Por baixo lençóis de linho,
Por cima colchas de rosas.

Ninguém fale mal da Ana,
Pois a Ana é moça boa,
Passou a lua de mel,
Pelos caminhos da coroa.

Lá em cima do tractor,
Continuou a brincadeira,
A Ana foi apertada,
Contra tábuas de madeira.

Ó pobre, pobre Carlitos,
Tem olhos mas não vê nada,
Levou para Santa Cruz,
A bicicleta furada.

Ó pobre, pobre Avelino,
Tem de vender as ovelhas,
O casamento o deixou,
Empenhado até às orelhas.

Tudo isto aconteceu,
Ao Carlos e à sua amada,
No dia do casamento,
Foram corridos à pedrada.

A Luzia e o marido,
Não foram ao casamento,
Não quiseram assistir,
Ao triste acontecimento.

Já estavam a adivinhar,
Que isso ia acontecer,
Nesse enorme barulho,
Não se quiseram meter.

Aquilo era um inferno,
Lá no cimo da barreira,
As mulheres mais pareciam,
Tontas do Conde de Ferreira.

Aquilo era um inferno,
Lá por detrás do alvoredo
Dizia a malta que estava fora,
Isto parece um putedo.

A malta que estava fora,
Sorria com muita graça,
Por ver que o cinema era caro,
E em Tuizelo houve de graça.

Dizia a mãe do noivo,
Com mágoa no rosto seu,
Pobrezinho do meu filho,
Em que raça se meteu,

Num dia cheio de luz,
A lenha no fogo a arder,
Nem mesmo em santa Cruz,
Conseguiu fazer milagre.

Os do lombeiro são tontos,
Os de Santa Cruz são iguais,
Foi grande o falatório,
Desde Tuizelo a Vinhais.

Tuizelo já está farto,
Andam dizendo os putos,
Está farto de aturar
Este bando de malucos.

A Sofia estava tonta,
O Avelino tonto era,
Todos pareciam malucos,
Nesse dia de Primavera.

Ouçam queridos ouvintes,
Tal era a ignorância,
No dia do casamento,
Foi assim o pé de dança.

Ouçam queridos ouvintes,
Dá para rir, dá para chorar,
Nem a selecção do México,
Deixou tanto que falar.

Esta gente sem vergonha,
Parecem doidos varridos,
Limparam o mijo à fronha,
E hoje são todos amigos.

Ferreira Augusto

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