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segunda-feira, 10 de maio de 2010


ENXADA

Fui nobre cortante enxada,
Desbravei relvas de pão,
Fui sucata abandonada,
Ando agora num canhão.
Ainda me lembra de ser
Pedra de mineral,
Lembra-me a luta final,
Dos braços que me foram colher,
Levaram-me a derreter,
Fui em ferro transformada,
E depois à martelada,
Numa vigórnia estendida,
Deram-me uma forma de vida,
Fui nobre cortante enxada.
Comprou-me um moço pulsante,
Fez-me um cabo de madeira,
Fui embora uma segunda-feira,
Nos braços desse gigante,
E daí em diante,
Foi a minha profissão,
Desbravei relvas de pão,
Cavei vinha s e olivais,
Vinte anos talvez mais,
Desbravei, cavei no chão.
Começava de manha,
Em lutas rigorosas,
Cavando terras rochosas,
Cada vez com mais afã,
Conservei-me enquanto sã,
Fui vizinha de latada,
Abandonada ferrugenta,
Deixei de ser ferramenta,
Fui sucata abandonada.
Estive sete anos sem valor,
Junto a ferros como eu,
Até que um, dia apareceu,
Lá em casa um comprador,
Levaram-me num vapor,
Fui a nova fundição,
Desde esse então,
Deixei de cavar na terra,
Levaram-me para a guerra,
Ando agora num canhão.

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