Minha mulher
Minha mulher num berreiro,
Só vive do estrangeiro,
Mas que infernal!
Ela chora, fica em brasa,
Se eu levar coisa para casa,
Se é nacional.
Quis uma cama francesa,
Da madeira mais fina,
A loiça é toda chinesa,
Só veste cedas da china.
Que estrangeirinha,
Ela me havia de arranjar,
Que sorte a minha,
Eu tenho de a gramar.
Porque me diz,
Meu rico translazantana,
Quero-te ver no nariz,
Um bigode à Americana.
Até o canário é belga,
Bacalhau da noruega,
Ou inglês.
Veio do japão o prato,
Onde vai comer o gato,
Porque é francês.
Ela só gosta meus ouvintes,
De macarrão à italiana.
O pão é broa de avintes,
E a pinga americana.
Que desgraçado,
Tenho sido com a mulher,
Sou obrigado,
A fazer o que ela quer,
Vou no seu role,
Para com ela me dar bem,
Até uso um guarda-sol,
Para parecer um chamberlém.
Gosta do jogo da bola,
De Tourada à espanhola,
Que é o seu derriço.
Quando vamos ao café,
O café da sua fé,
É o suíço,
Também teve uma criancinha,
Muito linda e engraçadinha,
Até esta veio de frança,
Metida numa cestinha.
Fala francês,
Merci napa de qua,
E o chinês, tamchim Carapuchaguá,
Se ferra o cão,
Ninguém a percebe,
Põe-se a falar alemão,
Para não pagar a quem deve.
Sem comentários:
Enviar um comentário