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quinta-feira, 29 de abril de 2010
Á uma hora eu nasci,
Às duas me baptizei,
Às três eu já namorava,
E às quatro me casei,
Às cinco deu-me uma dor,
Às seis uma aflição,
Às sete veio o doutor,
E às oito num caixão,
Às nove acompanhamento,
Às dez entrada na igreja,
Às onze na sepultura,
E à meia-noite no céu.
O céu brilhava de luzes,
Uma estrela adormeceu,
Os anjos todos choravam,
A Teresinha morreu.
A filha do fazendeiro,
Foi sempre a mulher mais linda,
Namorava um serralheiro,
Tinha-lhe amor verdadeiro,
Um amor que nunca finda.
O pai de Rosa não queria,
Que ela amasse um operário,
Vendo em si grande mania,
Querendo entrar na burguesia,
Casando-a com um milionário.
Mas a Rosa só gostava,
Era do trabalhador,
Quanto mais o pai ralhava,
Muito mais ela gostava,
Maior era o seu amor.
Mas o pai que não pensou,
Que ela tanto o amava,
Acabou com o tal amor,
Matou o trabalhador,
Grande dor que a Rosa tem,
Sobre o caixão do amado,
Como peito esfacelado,
A Rosa morreu também.
O pai de Rosa morreu,
Cheio de remorsos e dor,
Aos filhos concelhos deu,
Filhos não façais como eu,
Quem venceu foi o amor.
Cravo branco à janela,
É sinal de casamento,
Menina recolha o cravo,
Que o casar tem muito tempo.
Ó que festa nos faremos,
Quando nos formos casar,
Os sinos da minha aldeia,
Dobrarão até quebrar.
Se tu és o meu amor,
Dá-me cá os braços teus,
Se não és o meu amor,
Vai-te embora, adeus adeus.
Ao passar à tua porta,
As telhas tinham virtude,
Estava com louca doença,
Fiquei de boa saúde.
Ó que festa nos faremos,
Quando nos formos casar,
Os sinos da minha aldeia,
Dobrarão até quebrar.
Eu queria ir ao baile,
Mas ainda sou novinha,
Quando for quero bailar,
Ao meu Zé agarradinha.
Vêm de lá minhas companheiras,
Sorrindo todas contentes,
Amigas das brincadeiras,
Ao lado dos seus pretendentes.
Ó Zé Ó Zé,
Aperta, aperta
Ó Zé Ó Zé,
Aperta-me bem.
Pois o amor bem apertado,
Ó Zé Ó Zé,
Fica-nos bem.
Quando passo à tua porta,
Tu finges que não me vês,
Mas a culpa não é tua,
É de quem te fez os pés.
Quando passo pela rua,
Tu vais seguindo meus passos,
Não me importa de morrer,
Abraçada nos teus braços.
Ó Zé Ó Zé,
Aperta, aperta
Ó Zé Ó Zé,
Aperta-me bem.
Pois o amor bem apertado,
Ó Zé Ó Zé,
Fica-nos bem.
A minha irmã mais velha,
Era boa rapariga,
Um dia foi apertada,
Até lhe inchou a barriga.
Não tenho nada com isso,
Também quero ser casada,
Não me importa de morrer,
Mas quero ser apertada.
Ó Zé Ó Zé,
Aperta, aperta
Ó Zé Ó Zé,
Aperta-me bem.
Pois o amor bem apertado,
Ó Zé Ó Zé,
Fica-nos bem.
Valdevinhos
Lá se vai Dom Bernardo,
Vestidinho de alegria,
Duzentos cavalo leva,
Todos os ganhou num dia.
Vai leva-los a beber,
A um tanque de água fria.
Bem lhe mirava o seu tio,
Do quarto onde dormia.
- Esses cavalos Bernardo,
A terceira parte é minha.
- Ai os tem todos meu tio,
Para outros tantos eu ganharia.
- Cala-te lá ó Bernardo,
Não fales com fantasia.
Que o que se ganha num ano,
Tudo num só dia se perderia.
- Valdevinhos foi à caça,
Ele tardava que não vinha,
- Vai-me saber dele Bernardo,
Vai lá vida minha.
- Como hei-de ir ao meu tio,
Tio que tanto mal me queria.
- Vai-mo buscar ó Bernardo,
Para os campos da alegria.
Encontrou-o descansado,
Debaixo da verde oliva.
Com casquinhas de laranja,
Refrescando mortais feridas.
- Quem te fez isso ó Bernardo?
Quem te fez tal ferida?
- Homem que a mim me fez isto,
Dele te livre virgem Maria.
Oito palmos tem de costa,
Cinco de cara comprida,
Pão comia por oito,
Vinho por cinco bebia.
Montado nesse cavalo,
Parece uma torre em cima,
Estavam eles nesta conversa,
Mouro ali aparecia.
O que fiz a Valdevinhos,
A ti também eu fazia,
- Para quem me mentes Mouro perro,
Para que me dizes tal mentira,
Que Dom Bernarda de Alcarquer,
A nenhum mouro temia,
À primeira pancada,
Mouro ao chão caia,
Tornou-lhe a secundar outra,
Acabou-lhe com a vida.
O marinheiro
Agora baixou o sol,
Horas são da merendada,
Vozes dava um marinheiro,
Lá no mar que se afogava.
Respondeu um mau demónio,
Do outro lado da água:
- Quanto davas marinheiro,
A quem da água te tirara?
- Daria os meus navios,
Os de ouro e os de prata,
- Não quero os teus navios,
Nem os de ouro nem os de prata.
Quero que à tua morte,
Me deixes a tua alma,
- Minha alma deixo-a a Deus,
O corpo aos peixes da água,
A cabeça deixo-a às formigas,
Para que nela façam morada.
Meu coração linzonjeiro,
Deixo-o à virgem sagrada.
As tripas deixo-as aos cegos,
Para cordas de guitarra.
As pernas deixo-as aos mancos,
Para que façam a caminhada,
Os braços deixo-os aos cotos,
Para que maneiem a espada.
A pomba caiu ao mar
A pomba ao mar caiu,
Nos braços do meu amor,
Agarrei a pomba e ela me fugiu.
O meu amor disse que vinha,
Quando a lua viesse,
A lua já se vê além,
E meu amor não aparece.
A pomba caiu ao mar
A pomba ao mar caiu,
Nos braços do meu amor,
Agarrei a pomba e ela me fugiu.
Eu pus-me a contar as estrelas,
Só a do norte deixei,
Por ser a mais pequenina,
Contigo a comparei.
A pomba caiu ao mar
A pomba ao mar caiu,
Nos braços do meu amor,
Agarrei a pomba e ela me fugiu.
Chamas-te mira, mira,
Eu não sou de Mirandela,
Mora na rua da Penha,
Salsas era minha terra.
Ao passar o rio Tua,
Andam barquinhos à vela,
Reparai para a minha sorte,
Rapazes de Mirandela.
Ai, ai, ai
Anda tua espalhado,
Ai, ai, ai
Que enganei a rapariga.
Rapazes de Mirandela
Rapazes da minha vida,
Anda tudo espalhado,
Que enganei a rapariga.
A ponte de Mirandela,
Tem vinte e cinco olhais,
Contei-lhos ontem à tarde,
São dezoito, não tem mais.
Ao passar o rio Tua,
Andam barquinhos à vela,
Reparai para a minha sorte,
Rapazes de Mirandela.
Ai, ai, ai
Anda tua espalhado,
Ai, ai, ai
Que enganei a rapariga.
Eu não sei que fiz ao Porto,
Que tanto chora por mim,
Quero ir viver ao Porto,
Na rua do bom jardim.
Quando te disse adeus Porto,
Das varandas do navio,
Eram as lágrimas tantas,
Sem chover crescia o rio.
Eu a querer-te e a estimar-te,
Tu a fugires de mim,
Deus te dei-a por castigo,
Uma pena sem ter fim.
Quando te disse adeus Porto,
Das varandas do navio,
Eram as lágrimas tantas,
Sem chover crescia o rio.
Deitemos o barco na água
Deitemos o barco na água,
Fora da água vamos passear,
Quem me diz que o barco vira,
Eu caio na água e não sei nadar.
Amores dalém do rio,
Não os quero por dinheiro,
Cada vez que vou e venho,
Dou três vinténs ao barqueiro.
Deitemos o barco na água,
Fora da água vamos passear,
Amores dalém do rio,
Não os quero nem por graça,
Eles põem por desculpa,
é rio que se não passa.
Deitemos o barco na água,
Quem me diz que o barco vira,
Eu caio na água e não sei nadar.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
O prisioneiro
Dentro da escura prisão,
O triste réu passa a vida,
Á noite vai-se deitar,
Na enxerga enegrecida.
É bem triste a existência,
De um infeliz condenado.
Quantas vezes tem mostrado,
Provas da sua inocência,
De que vale a resistência,
Contra uma acusação,
Sofrer com resignação
É esse o nosso dever,
Levar a vida a sofrer,
Dentro da escura prisão,
Nós vivemos tristemente,
Perdendo toda a alegria,
Vivendo nesta enxauguia,
Culpados ou inicentes.
Só nos veremos contentes,
Quando chegar a saída,
Quando dermos guarida,
Por que neste cativeiro,
Dão lances traiçoeiros,
E o triste réu passa a vida.
Vêm aqui muitas mães,
Visitar os seus filhos queridos,
Os que não têm amigos,
Nem carinhos de ninguém,
Voltam os olhos além,
Com vontade de chorar,
Não fazem senão meditar,
Em tão triste viver.
Ouvindo os ferros bater,
Quando à noite se vão deitar.
Gritam forte as sentinelas,
Quando dão um alerta,
O pobre preso desperta,
Vê fechadas as janelas,
Lembrando das noites belas,
Do mundo da bela vida,
E vê a luz emudecida,
Ergue-se com rapidez,
Pensa e deita-se outra vez,
Sobre a enxerga enegrecida.
Trago um boneco comigo,
Que anda sempre descabeçado,
Quando sente as raparigas,
Óh ladrão que é tão danado.
Já tem chegado a hora,
De ir com ele a bailes,
É uma carga de trabalhos,
Eu tenho de me vir embora,
Se não lhe dou de comer ele chora,
Isto é um grande castigo,
Muitas vezes é um perigo,
Quando não lhe dão o que ele quer,
Só está bem é na mulher,
Trago um boneco comigo.
Começa a soluçar,
Á vista de toda a gente,
Até pula de contente,
O ladrão quer-se julgar.
Eu tenho de abalar,
Porque me vejo envergonhado,
Em vendo as moças do fado,
Tão brtu que o ladrão é,
Já perdeu o seu boné,
Anda sempre descabeçado,
Se ele vê alguma,
Que seja da sua cor,
Cobre-se todo de suor,
E começ a deitar escuma,
Se o boneco se acostuma,
E lhe começam a mexer nas ligas,
Então temos grandes brigas,
Para leva-lo de vencido,
Óh que boneco tão divertido,
Quando sente as raparigas.
Ás vezes está dormindo,
Vêm as moças falar,
Começasse a empinar,
Com o focinho estendido,
O escumalho vai saindo,
Por vezes é coñsolado,
Em o gosto lhe fazer,
Estando dois dias sem comer,
Ó ladrão é tão danado.
Sou o mestre da agricultura,
O saber não me disputa,
Gosto de apalpar a fruta,
Quando está bem madura.
Gosto da boa doçura,
E gosto das boas pessoas,
Amigas da brincadeira,
Com licença da quinteira,
Vou apalpara as gamboas,
Estando eu em meu sossego,
Sai para dar um passeio,
E saltei-lhe à quinta do meio,
Meti-me num arvoredo,
Óh menina, Não tenha medo,
Que o seu fruto está seguro,
Seja mole ou seja duro,
Sempre tem a minha estima,
Na sua quinta de cima,
Já tem marmelos maduros,
Tem um arvore escondida,
No regato, junto do poço,
Que dá fruto sem caroço,
Chamados gostos da vida,
Essa arvore é pretendida,
Óh menina dê-me um cacho,
E na sua quinta de baixo,
O seu bastardo já pinta.
Saindo do meu sonego,
Dou cambalhotas, dou saltos
Depois de apalpar os altos,
Os baixos já apalpei,
E em toda a parte eu achei,
Uva branca, uva tinta,
Para que a menina não sinta,
E não diga mal da boda,
Apalpei a fruta toda,
Que a quinteira tem na quinta.
NO DIA DO MEU CASAMENTO,
HOUVE GRANDE INTERTIMENTO,
LÁ EM CASA DOS PAIS DELA,
MAS SE EU VOLTAR A CASAR,
EU HEI-DE-ME ACALTELAR,
CAIR EM TAL ESPARRELA.
MEU SOGRO ERA ATLETA,
TINHA UMA BICICLETA,
COM TODA A ENGRENAGEM,
ANTES DO ANOITECER,
EU PENSEI EM IR CORRER,
FUI FAZER UMA VIAGEM,
PEGUEI NA BICICLETA,
AO TENTAR CORTAR AMETA,
NESSA ALTURA APEDALEI.
PENSANDO CORRER SEGURO,
ENCONTREI UM GRANDE FURO,
E NESSA ALTURA PAREI,
VOLTEI PARA TRÁS ENTÃO,
COM A BICICLETA À MÃO,
AO MEU SOGRO A FUI LEVAR.
POIS GUARDE-A BEM GUARDADA,
POQUE ELA ESTÁ FURADA,
ROMPEU A CAMARA DE AR,
O MEU SOGRO RESPONDEU:
-FOI VOCE QUEM A ROMPEU,
PERANTE ESSA LOUCURA,
MAS NÃO TE ZANGUES RAPAZINHO,
DEITAMOS-LHE UM ROMENDINHO,
TUDO NA VIDA TEM CURA.
- EU NÃO TOMO ESSE ENCARGO,
O BURACO É MUITO LARGO,
NÃO ME METO AO SERVIÇO.
FOI CERTO QUE NELA ANDEI,
NÃO FUI EU QUEM A FUREI,
NÃO TENHO NADA COM ISSO.
POIS DESISTO DA CORRIDA,
E ENQUANTO EU TIVER VIDA,
JURO-LHES POR MINHA FÉ,
POREI CORRER À FARTA,
MAS PRIMEIRO TIRO A CARTA,
OU ENTÃO ANDO A PÉ.
Já morreu o meu tio Zé Berzumbas,
Um homem muito rico do país,
Deixou-me em testamento uma fortuna,
Depois de ter esticado o seu pernil.
Deixou-me um colarinho e três gravatas,
Com pintinhas que fingiam violetas,
Deixou-me uma caixa de fósforos com beatas,
E um belo guarda-chuva sem varetas.
Deixou-me um fato à subiote,
Que causava assombro a toda a gente,
As calças estavam dentro de um caixote,
E o casaco não tinha costas nem frente.
Deixou-me umas botas embostado,
Que foram vendidas por quinze tostões,
Deixou-me um sobretudo remendado,
Que já não tinha uma manga, nem botões.
Deixou-me uma camisa de popeline,
Umas ceroulas que não tinham fundilhos,
Deixou-me um revolver enferrujado,
Que já não tinha canos nem gatilhos.
Deixou-me uma vivenda luxuosa,
Para eu e a família ir viver,
A casa era no alto de Monsanto,
A mobília estava na loja por vender.
Depois desta fortuna golosal,
Deixou-me em dinheiro um tostão,
Deixou-me o canal do cu,
Para beber água fresca no verão.
A ceguinha
Cavaleiro por quem sois,
Pelo divino amor de Deus,
Daí a esmola à ceguinha,
Que cegou dos olhos seus.
Cavaleiro ouviu isso,
Seu cavalo enfriou,
Pôs os olhos na ceguinha,
A pobreza o entristou.
De remendos e farrapos,
Todo era o seu trajar,
Meteu a mão a um bolso,
Três moedas lhe quisera dar.
Eu não quero cavaleiro,
O dinheiro na minha mão,
Que podem assim assim,
Arrancar-me o coração.
- De onde vindes cavaleiro?
De tão longo viajar,
Novinhas do meu filho,
Bem tu mas podias dar.
- Novinhas do teu filho,
Não isso não é para ti!
Há sete anos que ceguei,
Há sete que o não vi.
-Dizei-me vós óh ceguinha,
Como é o vosso nome?
- Margarida de Autobuia,
Mulher do capitão mor.
- Perdoa-me óh minha mãe,
Para vós não tenho escrevido.
Pois alguém me tinha dito,
Que vós já tínheis morrido.
- Graças a Deus que para sempre,
Agora posso dizer,
Que abracei o meu filho,
Sem tal conta fazer.
DOM PEDRO
Dom Pedro se foi à caça,
Para os campos da alegria,
Dera-lhe um mal no caminho,
Para trás não volveria.
Sua mulher ficava parida,
E numa cama metida,
- Óh minha mãe, minha mãe,
Minha mãe que tanto bem me queria,
Para onde foi Dom Pedro,
Que tanta tardada tinha?
- Dom Pedro minha filha,
Foi para uma romaria,
Andará por lá um ano,
Um ano e mais um dia.
- Óh minha mãe, minha mãe,
Minha mãe que tanto bem me queria,
As paridas desta terra,
Com que tempo vão à missa,
Umas vão de três semanas,
Outras de quarenta dias,
Tu como és de gente nobre,
Tu vais de um ano e um dia.
- Óh minha mãe, minha mãe,
Minha mãe que tanto bem me queria,
As paridas desta terra
Que traje levam à missa?
- Umas vão de primavera,
Outras de seda branca vestidas,
Tu como és de gente nobre,
Vais de seda negra vestida.
Há entrada da igreja
Houve um velho que dizia
- Óh que viúva tão alegre,
De seda negra vestida,
- Óh minha mãe, minha mãe,
Aquele homem que dizia?
- Era por causa da nossa moça,
Que também de luto ia.
- Óh minha mãe, minha mãe,
Minha mãe que tanto bem me queria,
Que tochas eram aquelas,
Que alto reluziam?
- Eram por alma de Dom Pedro,
Que morto há um ano havia.
terça-feira, 20 de abril de 2010
FREI JOÃO
Bem se passeia o frei João,
De manhã, pela geada,
Abotoando os botões,
Tocando na sua guitarra,
Á porta da moreninha,
Foi fazer a serenata.
Abre-me a porta morena,
Morena mulher casada,
Se não me abres a porta,
Não és morena nem nada!
- Como ta eu hei-de abrir, D
om João da minha alma,
Se menino tenho nos braços,
Marido tenho ilharga,
Tenho um aporta que roje,
E uma cadela que ladra.
- Á cadela dá-lhe leite,
Á porta deita-lhe água,
Ao marido manda-o à caça,
Estando eles nestas razões,
O marido acordava,
- Com quem é ó moreninha,
Com quem é essa batalha?
- É com a moça da forneira,
Que veio ver se amaçava,
Se amaça pão centeio,
Que lhe deite pouca água,
- Se amaça pão de ló,
Que lhe deite acostumada.
- Levanta-te ó meu marido,
Levanta-te e vai à caça,
Olha que não há melhor coelho,
Coelho da madrugada.
Ainda ele ali estava,
Muito bem ela se preparava,
Para casa do frei João,
Não fugia, que voava.
Pegou nela nos seus braços,
Com que força a apertava,
Deu-lhe vinho, deu-lhe mel,
Daquele que rendi a casa,
Pegou nela nos seus braços,
Na sua cama a deitava,
Os apertões eram tantos,
Que toda a casa abanava.
Foi embora para casa,
E seu marido encontrava,
- De onde vens ó moreninha,
De onde vens tão alvada,
- Fui ouvir missa nova,
Que frei João a cantava.
- Marido se me queres bater,
Bate-me com vara de marmeleiro,
Pois até aqui eras meio corno,
Agora és corno inteiro!
- Lá te vai lança azagada,
Direita ao coração,
Para não te voltares a ver
Nos braços do Frei João.
Bela Infanta
Estando a bela Infanta,
No seu jardim sentada,
Com um pente de ouro na mão,
Seu cabelo penteava.
Deitou os olhos ao mar,
Viu vir uma grande armada,
Capitão que nela vinha,
Muito bem a governava,
- Dizei-me vós capitão,
Dessa tão formosa armada,
Se vistes o meu marido,
Na terra que Deus pisava?
- Dizei-me vós ó senhora,
Os sinais que ela levava,
- Levava cavalo branco,
Selim de prata dourada,
Na ponte da sua lança,
A cruz de Cristo levava,
- Com os sinais que dizeis,
Tal cavaleiro não vi.
Ó quanto davas senhora,
A quem o trouxera aqui?
- Daria tanto dinheiro,
Que não tem conta nem fim,
E as telhas do meu telhado,
Que são de ouro e de marfim.
- Não quero o teu dinheiro,
Nem as telhas de ouro e marfim,
Teu marido aqui está,
Repara bem para mim.
O anel de sete pedras,
Que eu contigo reparti,
Que é tua a outra metade,
Pois a minha está aqui!
- Vinde cá ó minhas filhas,
Que vosso pai é chegado,
Abres se o nobre portão,
Há tanto tempo fechado,
Vamos dar graças a Deus,
Graças a Deus consagrado.
Alma perdida…
Beira do Douro a baixo,
Beira do Douro a cima,
Vozes dava uma alma,
Vozes dava que a toia.
Ouvira um cavalheiro,
Do quarto onde dormia,
Que é isso ó alma santa,
Que é isso alma minha?
Quero ir para o Santiago,
O caminho eu não sabia,
Agarra-te ao bem que fizes-te,
Se bem fixes-te algum dia.
Pobre de mim pecadora,
Que nada disso fazia,
Agarra-te às esmolas que deste,
Se esmolas deste algum dia.
Pobre de mim pecadora,
Que nada disso fazia.
Agarra-te às missas que assististe,
Se à missa assististe algum dia.
Pobre de mim pecadora,
Que nada disso fazia,
De quarenta quarentenas,
A terça parte eu te daria,
Para ires mais descansada,
A cumprir a romaria.
Na volta vindes por aqui,
A contar o que lá ia,
Abençoado cavalheiro,
Salvas-te a tua alma e a minha.
Mais um cravo roxo,
Que para a roda entrou,
Deixai-o dançar,
Se ainda não dançou.
Se ainda não dançou,
Ò verde limão,
Escolha agora o par,
Da sua afeição.
Leve-as par casa,
Diga à sua mãe,
Que ele é novinha,
Que a estime bem.
Ó do estima, estima,
Não há-de faltar.
Rapaz deixa a moça,
Vai para o teu lugar.
Ora adeus, adeus,
Adeus que eu já me vou,
Não chores amor,
Que eu ainda aqui estou.
Ó senhor ladrão,
Ande ligeirinho,
Se não quer ficar,
Na roda sozinho.
Na roda sozinho,
Não quero ficar,
Eu hei-de ir à roda,
Escolher o meu par.
Será quando for,
Uma destas moças,
Vai ser meu amor,
Vai ser meu amor,
Ó linda rosa querida,
Seremos felizes,
Para toda a vida.
Para toda a vida,
E assim há-de ser,
Na paz do senhor,
Havemos de viver.
Esta rua tem pedrinhas,
Esta rua pedras tem.
Das pedras não quero nada,
Da rua quero alguém.
Nesta rua, nesta rua mora um homem,
Que se chama solidão,
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração.
Se eu roubei, se eu roubei teu coração,
Tu também, tu também roubas-te o meu!
Se eu roubei, se eu roubei teu coração,
É porque, é porque eu te quero bem!
Rua a baixo, rua a baixo rua a cima,
Toda a gente, toda a gente me quer bem,
Só a mãe, só a mãe do meu amor,
Não sei que, não sei que raiva me tem.
Nesta rua, nesta rua mora um homem,
Que se chama solidão,
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração.
Se eu roubei, se eu roubei teu coração,
Tu também, tu também roubas-te o meu!
Se eu roubei, se eu roubei teu coração,
É porque, é porque eu te quero bem!
Deixa a cidade formosa e morena,
Linda pequena volta para o sertão.
Beber água da fonte que canta,
Mas que se levanta do medo chão.
Se tu nasces-te com a boca cheirosa,
Cheirando a rosa,
Do peito e da terra
Volta para a vida serena da rosa,
Daquela palhosa, do alto da serra.
As aves a cantar,
Choã, choã,
Parecem alguém,
Que cheiro de mágoa,
Deixando que a água
Rolando também.
Quando um dia na altura distante,
Fulgura elegante, Folhas a cair,
Vou deixar esta luz altaneira,
Eu volto para a serra,
Eu quero partir.
Choã, choã,
Parecem alguém,
Que cheiro de mágoa,
Deixando que a água
Rolando também.
QUE EU SOU OLVALDO,
QUE TU DESPREZAS-TE,
HOJE TU GOZAS AO LADO DE OUTRA,
NÃO É NADA GRANDE A MINHA DOR.
QUANDO JUNTO Á JANELA ESTAVA,
QUANDO ESTA CANÇÃO CANTAVA,
NÃO TE ILUDES POR MIM Ó DONZELA,
NÃO TE ILUDES,
NÃO TE ILUDES NÃO,
NÃO TE ILUDES POR MIM Ó DONZELA,
NÃO TE ILUDES PEÇO-TE POR DEUS.
QUE EU SOU OLVALDO,
QUE TU DESPREZAS-TE,
HOJE TU GOZAS AO LADO DE OUTRA,
NÃO É NADA GRANDE A MINHA DOR.
Tu és morena,
Uma óptima pequena,
Não há branca que não perca,
O seu juízo,
Quando passas,
Lá pelo sertão,
Toda a gente faz questão,
Com o teu sorriso,
Ai que calor, calor,
Que assim me faz suar,
Que bem se passam as calmarias,
De noite e dia,
Á beira do mar.
No meu quarto,
Passo dias esquisitos,
A dar guerra aos mosquitos,
Para dormir,
Mas os malvados dos percevejos,
Agarram-se a mim aos beijos,
E eu quero fugir.
Ai que calor, calor,
Que assim me faz suar,
Que bem se passam as calmarias,
De noite e dia,
Á beira do mar.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Vou namorar no jardim uma flor,
Vou viver lá no mar com um peixinho,
Já que no mundo, não existe amor.
Acorda minha bela namorada,
A lua nos convida a passear,
Seus raios iluminam toda a estrada,
Por onde nós havemos de passar?
A lua vem surgindo cor de prata,
No alto da montanha verdejante,
A lira do cantor em serenata,
Reclama na janela a sua amante.
Ai linda imagem de mulher,
Que me seduz,
Ai se eu pudesse tu estarias no altar,
És de minha alma,
De meus olhos és a luz,
És malandrinha,
Não precisas de trabalhar.
A lua vem surgindo cor de prata,
No alto da montanha, junto ao pinho,
E quando a madrugada já rompida,
Os pombos voltarão para seu ninho.
Ai linda imagem de mulher,
Que me seduz,
Ai se eu pudesse tu estarias no altar,
És de minha alma,
De meus olhos és a luz,
És malandrinha,
Não precisas de trabalhar.
Sombra de sertão
Ainda agora bem me lembro,
Quando eu era criancinha,
Deitada numa redinha,
Lá na sombra do sertão.
E aquela pobre velhinha,
Me cantava esta canção,
Dorme dorme queridinha,
Meu anjinho inocente,
Dorme dorme queridinha,
Que a tua mama esta contente.
Agora desprezada por este mundo além,
Sozinha sem ter quem me queira bem,
A vida é misteriosa,
É enganosa, para quem a tem.
Ripa a vaga ao teu olmo,
Que eu ao meu já o ripei.
Tira de mim o sentido,
Que eu de ti já o tirei.
O amor de Carolina,
Usa pala no boné,
Sim Carolina oioai,
Sim Carolina oai olé.
Quem quiser tomar amores,
Vá tomar os que eu deixei,
Vá os buscar ao inferno,
Que eu para lá os mandei.
O amor de Carolina,
Usa pala no boné,
Sim Carolina oioai,
Sim Carolina oai olé.
A moda da carrasquinha,
Quem a havia de inventar,
Foram os presos na cadeia,
Estão à sombra têm vagar.
Metildinha sacode a saia,
Joaquim levanta o braço,
Deita o joelho em terra
Alevanta-te e dá-me um abraço.
A moda da carrasquinha,
É uma moda assim assim,
Deita-se o joelho em terra,
Damos vivas ao Joaquim.
Metildinha pede tojo,
Meu amor agora agora,
Deita o joelho em terra,
Diz adeus , vamos embora.
Debajo de la puente,
Esta un cravero,
Pastaor qui o riega,
No gana dinero,
Queda-te com Dios,
Queda-te com Dios,
Nos vamos para Viana,
Queda-te com Dios,
Ja morrio Dona Silvana.
Debajo de la puente,
Retruca la agua,
Sona nas lavaderas,
Que en el rio lavavam.
Queda-te com Dios,
Nos vamos para Viana,
Queda-te com Dios,
Ja morrio Dona Silvana,
Queda-te com Dios.
Preso en la carcer estoy,
No llore mi madre por ello,
No soy lo primero preso,
Nem ejas de ser quem soy.
Las piedras del calabouço,
Vestidas de luito estan.
Las piedras por sierem piedras,
Lloram alver mellorar,
Mi madre cuando lei la carta,
Con letra de la precion,
Leo la sim con tencion.
E no deches olvido,
Adeos parentes e amigos,
Aborrim del coracion,
Cuando estaba em liberdade,
Cuantos amigos tenia,
Ahjora que estoy en la carcera,
Todos me viram la cara.
Marinero de la agua dulce,
Quita-te de la agua salada,
Quita-te del puerto rico,
Del puerto rico a LA HAvana.
A mujer delmarinero,
Se puede llamar viuva,
Cuando seu hombre se embarca,
Sem barca para la sepultura.
Ai que llavam, que me lhevam,
Ai que quierem levar,
Ai que llevam las olas,
Ai para el mio del mar.
La vida del marinero,
Essa una verdade pura,
Toda ida trabajando,
Em riba de la sepultura.
Ai Lolita me marcho ella guerra,
Tu comigo náo puedes venir,
Já que tu comigo não vienes,
Una carta te voi escrevir.
Lo cartero à poerta de Lola,
Una carta a Lolo levou,
E a Lola se posso a lela,
Un desmaio a Lola lhe doi.
-Que te passa hija de mi vida,
-Madre mia que me vai passar,
Trago mi noivo en la guerra,
Madre mia lo van a matar.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Sapateiro
Rosa que estás na varanda,
Encostada ao craveiro,
Juro que hás-de ser minha,
Ou deste meu companheiro,
- Juro que não serei tua,
Nem desse teu companheiro,
Tem-me o meu pai guardada,
Para um nobre sapateiro.
- Sapateiro sou senhora,
De nobre sapataria,
Sapatos faço de seda,
Para vossa senhoria.
- Não quero sapatos de seda,
Nem sapatos de outra cor,
Prefiro ser Rosa Branca
Do que sujeitar-me ao senhor,
Mais quero ser Rosa Branca,
Enxertada na borragem,
Que casar com um cavaleiro,
Senhor de baixa linhagem.
- Mais quero ser cravo roxo,
Enxertado na raiz,
Que casar com Rosa Branca,
Que já foi de quem a quis.
- Ala ala galandino,
Não deites falas ao vento,
Eu sou freira de Santa Clara,
E vou para o meu convento,
- E eu sou soldado del rei,
E vou para o meu regimento.
Ó da malva, ó da malva,
Ó da malva moreninha,
- Diz-me cá tu ó da malva,
Do teu corpinho garrido,
Se para trás daquela serra,
Se passa algum rio.
- O rio lá vai senhor,
Ele vai espavorido,
Que o não passa el rei,
Nem tão pouco seu amigo
Só o passa Malveta,
Nos braços do seu querido,
Ó da malva, ó da malva,
Ó da malva moreninha,
- Diz-me cá tu ó da malva,
Do teu corpinho amado,
Se para trás daquela serra,
Se passa algum lago?
- O lago lá está senhor,
Ele está empolvorado,
Que o não passa el rei,
Nem tão pouco seu cavalo.
Só o passa Malveta,
Nos braços do seu amado.
Ó senhora nossa ama,
Venha cá para o serão,
Que aqui estão os segadores,
Que cegaram o seu pão.
Ó senhora nossa ama,
Ponha a toalha na mesa,
Que aqui estão os segadores,
Que cegaram a devesa.
Ó senhora nossa ama,
Não sei que lhe ei-de chamar,
Não sei se lhe chame rosa,
Ou estrela de alumiar.
Ó senhora nossa ama,
Estenda a toalha na sala,
Que aqui estão os segadores,
Que acabaram a cegada.