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quarta-feira, 27 de outubro de 2010


Carteira/bolsa feita pelo Luciano com fio sizal

Carteira feita pelo Luciano com fios de fardos reutilizados

Luciano a fazer carteiras em macramê!

Covivio na Santa Casa da Misericórdia (a jogar dominó)


Luciano a jogar dominó (a fazer o reconhecimento das pedras do dominó)

Luciano na Santa Cada da Misericórdia de Bragança a jogar dominó com os amigos

Luciano na Santa Cada da Misericórdia de Bragança a jogar dominó com os amigos

terça-feira, 26 de outubro de 2010


Luciano e amigos no jardim Municipal em Bragança



Luciano trajado a rigor junto da estatua de homenagem aos correios de Bragança

Luciano e amigos no centro de Bragança

Luciano trajado a rigor no Polis em Bragança


Luciano e amigo no Polis em Bragança


O Pedro

Era uma vez um casal de anciãos agricultores que eram portadores de riqueza a nível da agricultura e criação de gado.
Um certo dia a mulher disse para o marido: - Vai à Vila a ver se arranjas outro criado, pois o nosso vai se ausentar para cumprir o serviço militar, mas tem cuidado, antes pergunta-lhe o nome, porque se for Pedro eu não aceito “Pedros”.
E assim foi o marido no dia seguinte foi à Vila à procura de um novo criado. Ao longe avistara um miúdo que tinha um saco com ele.
Aproximou-se do rapaz e perguntou: - Que fazes tu meu rapaz?
- Ando à procura de patrão, respondeu o rapaz!
- Ai andas? Olha lá tu não queres vir trabalhar para mim? – Perguntou o ancião.
- Quero sim, respondeu o rapaz.
- Mas espera, antes de mais diz-me o teu nome! Perguntou-lhe o ancião.
- Eu chamo-me Pedro, disse o rapaz.
- Oh que desgraça a minha, a minha mulher não quer Pedros lá em casa, tenho que ir à procura de outro criado! Disse o ancião.
E lá foi ele, procurou aqui, procurou ali, mas nada de encontrar um novo criado. Até que de novo ao longe avistou outro rapaz, aproximou-se dele e voltou a perguntar:
- Que fazes tu meu rapaz?
- Ando à procura de patrão, respondeu o rapaz!
- Ai andas? Olha lá tu não queres vir trabalhar para mim? – Perguntou o ancião.
- Quero sim, respondeu o rapaz.
- Mas espera, antes de mais diz-me o teu nome! Perguntou-lhe o ancião.
- Eu chamo-me Pedro, disse o rapaz.
- Oh que desgraça a minha, nesta terra só há Pedros. Embora a minha mulher não os queira vou ter de levar um criado chamado Pedro!!
E lá foram os dois para casa do ancião.
Quando chegaram a casa o ancião disse para mulher: - Mulher na Vila não havia criados que não fossem Pedros, por isso tive de trazer um Pedro!!
- Já que tem de ser marido, vamos apenas fazer-lhe um contrato até ao cantar do Cuco (fim do Inverno inicio da Primavera)
E assim foi o criado aceitou.
Passado uns tempos a patroa começou a embirrar com o criado e cheia dele disse-lhe que tinha de ir buscar um carro de lenha, da mais torta que encontrasse, se não teria de ir embora.
O Pedro aceitou, no dia seguinte pegou no carro e lá foi ele.
Foi à vinha e com a machada cortou-lhe as cepas todas. Depois voltou para casa com a carrada da lenha para mostrar à patroa.
A mulher toda chateada ao ver as cepas disse para o marido: - Viste marido eu bem te disse que não queria Pedros em casa!!! Este deu-nos cabo da vinha!!!!!
Passados alguns dias voltaram a dizer ao Pedro que tinha de ir buscar um carro de lenha, da mais direita que encontrasse, se não teria de ir embora.
E lá foi o Pedro com o carro à procura de lenha direita.
Dirigiu-se a um pinhal novo que o patrão tinha e tal como com na vinha cortou o pinhal todo. Depois voltou para casa com a carrada da lenha para mostrar à patroa.
A patroa quando viu aquilo voltou a dizer ao marido: - Viste marido eu bem te disse que não queria Pedros em casa!!! Agora deu-nos cabo do pinhal!!!
Passaram-se mais uns dias e de novo a patroa propôs ao Pedro que mete-se a junta das vacas num lameiro com um muro alto, mas não poderia entrar pela única entrada (porta).
E assim foi lá foi o Pedro…matou as vacas, cortou-as aos pedaços e atirou-as por cima do muro já que não podia entrar pela porta.
A patroa ao ver aquilo gritou mais uma vez para o marido: - Viste marido, já nos deu cabo da vinha, do pinhal agora matou as vacas…ainda nos vai matar a nós também!!!
O que vamos fazer???
E o marido propôs mandar-se o Pedro com o rebanho das ovelhas para a serra, onde habitava um gigante que matava todos os pastores.
Assim foi…lá foi o Pedro para a serra, quando lá chegou logo encontrou o gigante que lhe perguntou: - Então meu homem por aqui com o teu rebanho?
- É verdade, os meus patrões mandaram-me para cá. – Disse o Pedro
- Então meu rapaz à noite terás de ordenhar as tuas ovelhas e trazer-me um queijo para o meu jantar, se não serás morto! – Disse o gigante.
Dito isto o Pedro enquanto apascentava o rebanho encontrou um seixo e durante todo o dia arredondou de modo a ficar como um queijo.
Chegada a noite foi ter com o gigante e entregou-lhe o queijo.
- Aqui tem o seu queijo - disse o Pedro ao gigante.
Guloso à primeira dentada o gigante partiu os dentes, não podendo matar o Pedro!!
No dia seguinte o gigante fez outra proposta ao Pedro: - Rapaz hoje e se não quiseres que te mate, pois estou muito furioso contigo, terás de me trazer todas as ovelhas a dançar!!!
Dito isto o Pedro saiu com o rebanho e partiu a cada ovelha a pata da frente.
Quando chegou a noite o Pedro foi com o rebanho ter com o gigante e como as ovelhas tinham uma pata partida, iam todas a dançar e o gigante mais uma vez não pode matar o Pedro.
- Realmente és um pastor inteligente disse o gigante.
No dia seguinte outra proposta o gigante fez ao Pedro: - Meu rapaz hoje a tua tarefa, para que não te mate será trazeres-me todas as ovelhas a rir!!!
E lá foi o Pedro com o rebanho…e com o canivete cortou o lábio de baixo de todas ovelhas.
Quando chegou a noite lá foi o Pedro ter com o gigante e lá iam as ovelhas todas risonhas, com os dente à mostra.
O gigante ao ver aquilo pensou: - Possa lá para este pastor, este dá-me pelas barbas…já chega para mim.
- Vai-te embora meu rapaz, que eu mais não te posso aturar.
E lá foi o Pedro de regresso à aldeia.
Ao vê-lo chegar os patrões pensando que o Pedro estaria morto, não queriam acreditar no que estavam a ver, lá vinha o Pedro à frente do rebanho, com a s ovelhas a dançar e a rir!!!
A patroa disse então para o marido: - Não acredito marido, que ainda o vamos ter de aturar até ao cantar do cuco. Então pensou subir ao sobreiro e cantar como o cuco. E lá foi ela “CUCUCUCUCUCU”.
O Pedro vendo que era a patroa que estava no sobreiro a cantar como o cucu pegou na arma e disse: - Cucas em Fevereiro, cá para baixo do sobreiro, matando a patroa.
A matança do porco

Numa certa aldeia do interior transmontano residia um casal de anciãos muito pobres, que quando chegava a época das matanças do porco, sentiam-se tristes porque não tinham um porquinho para matar, apenas iam às matanças dos porcos de alguns vizinhos.
Isto aconteceu durante alguns anos.
Foi então que um certo dia o marido disse para a sua mulher: - Óh mulher este ano temos de comprar um porquinho, para na altura da matança podermos também fazer a nossa “festinha”!
E assim foi o ano passou e o casal de anciãos cevou o seu porquinho para aquele dia e convidaram os seus vizinhos amigos para estarem presentes e ajudarem a matar o porquinho.
Foi um dia de festa, não faltou de comer nem que beber, o pior foi no final da festa, quando deram conta que do porco pouco restava.
No dia seguinte disse a mulher a lamentar-se para o marido: - Óh homem comeram-nos o porquinho todo!!!
E o homem todo alegre disse: -Não te preocupes, comeram o porquinho todo, mas pelo menos gostei da assussia (convívio).
Não há porco mal desfeito, nem lameiro mal cegado

Numa aldeia do Nordeste Transmontano viviam a comadre e o compadre.
Ambos durante o ano criavam um porquinho para ser morto na altura do natal.
Chegada essa época combinavam o dia para a matança do porco.
O compadre matava o seu porco um dia antes da comadre e esta chamava o compadre para que lhe fosse desmanchar o porco. Quando se ia embora o compadre dizia para a comadre: - Óh comadre não há porco mal desfeito, nem lameiro mal cegado, ora não?
- Não, respondia a comadre, e este ritual aconteceu durante anos, O mais estranho era que os porcos eram mais ou menos iguais mas o compadre fazia muito mais fumeiro do que a comadre.
Intrigada e com a pulga a atrás da orelha no ano que se seguiu a comadre esteve com o olho aberto enquanto o compadre desmanchava o porco dela, foi então que quando o compadre se despediu e disse: - Óh comadre não há porco mal desfeito, nem lameiro mal cegado, ora não?
- Não compadre, o que está mal é o lombo que você leva nos bolsos!- Exclamou a comadre.
E assim a comadre descobriu a razão do compadre fazer mais fumeiro do que ela.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010



EU SOU AQUILO QUE SOU...

Há muita gente que quer,
Saber quem é o Luciano.
Eu, em breve, vou dizer,
Quem é este Transmontano.

Quem é este transmontano,
Todos desejam saber.
Eu sou aquilo que sou,
Mais do que isto não sei dizer.

Eu fui aquilo que fui,
Hoje sou aquilo que sou.
Minha vida do passado,
Só saudade me deixou.

Em Nuzedo eu nasci,
Em Nuzedo me criei,
Em Nuzedo aprendi,
Muito daquilo que hoje sei.

Em Nuzedo eu nasci,
Em Nuzedo fui baptizado,
Em Nuzedo eu cresci,
Pelo monte atrás do gado.

Nuzedo, aldeia bela,
Onde brilha a branca neve.
Foi na aldeia de Nuzedo,
Que passei uma infância alegre.

Nuzedo, aldeia bela,
Como ela outra não vi.
Lindas lições para a vida,
Em Nuzedo aprendi.

Nuzedo, aldeia bela,
A mais linda do Universo.
Lhe rendo minha homenagem,
Nas palavras destes versos.

Era um garoto alegre,
Em tempos que já lá vão,
Mas de um momento para o outro,
Fiquei na escuridão.

Meu coração ficou triste,
Entregue à solidão,
Cada vez que eu me lembro,
São facadas que me dão.


O passado deixou marcas,
Profundas dentro de mim.
Golpes, feridas ingratas,
Ternuras sem terem fim.

Na aldeia de Nuzedo,
Fiz más e boas ações.
Das más guardo segredos,
Em todas as confissões.

Ao padre da Freguesia,
Três vezes me confessei.
Os pecados que eu fazia,
Nunca ao padre revelei.

No meu tempo de rapaz,
Subia e descia ladeiras.
Era um rapaz feliz,
Com as minhas brincadeiras.

Era um garoto alegre,
Na casinha de meus pais,
Essa alegria foi breve,
Logo se desfez em ais.

Lagartos e lagartixas
Acabei com mais de um cento.
Atirei com pedras à chuva,
Dei chicotadas ao vento.

Palmilhei campos abertos,
Áridos e pedregosos,
Esmaguei milhares de insetos,
Bicharocos misteriosos.

Pelos caminhos com pó
O trilho dos carros pisei.
Pelas rochas escarpadas,
Trambolhões e quedas dei.


Quando subia ladeiras,
Da burra abaixo caí.
Ao bater com o c.. no chão
A poeira ao ar subia.

Roubei pássaros do ninho.
Matei lebratos na cama.
Hipnotizei cobras no caminho,
Pesquei peixinhos à cana.

Roubei nozes no passal,
Castanhas na cumeeira,
Matei um pombo trocal,
No freixial da ribeira.

Ao romper da madrugada,
Entrava no arvoredo,
Com o meu cão de guarda,
Dos lobos não tinha medo.

Lavrei em terra molhada
Com charruas e arados,
Guardei ovelhas e cabras,
Corri com lobos do gado.

A pobres subi as calças,
A velhas lenha apanhei,
Quer boas e más ações,
Eu sempre lembrá-las-ei.

Dormi em terra lavrada,
Sobre esteiras no chão,
Vi luas de prata fina.
Nas noites quente de verão.

Tomava banho no rio,
Saltava nos meloais,
Joguei o jogo da reca,
Peão, fito e outros mais.

Calcei socos de madeira,
Vesti capotes de saca,
Fui um segundo Constantino,
“Pastor de ovelhas e vacas.”

Quando guardava as vacas,
Lindas canções cantava,
Que nas tardes de domingo,
A minha mãe me ensinava.


Nos carreiros das formigas,
Espalhava migalhas de pão,
Fugi às vezes da escola,
Para não ler a lição.

Subia em cima dos muros.
Tirei pêras nos pereiros,
Fiz moinhos manuais,
Nas presilhas dos lameiros.

Pelos montes apanhei,
Muitas ervas naturais,
A muita gente eu dei,
Essas ervas medicinais.

Pelos campos apanhei,
Muitas ervas aromáticas,
Pelos campos eu passei,
Alegrias e muitas mágoas.

Á sombra dos arvoredos,
No estio eu gozei,
Sentadinho em penedos,
A minha flauta toquei.

Minha flauta velhinha,
Que aqui estou a recordar,
Também a primeira cantiga,
Que eu aprendi a tocar.

No alto da carvalheira,
O negro cuco cantava.
A sua voz altaneira,
Muito bem eu imitava.

Imitava o negro melro,
O mocho e a perdiz,
O corvo e a boubela,
A rola e a codorniz.

Brincava com caracóis,
Meu brinquedo preferido,
Fiz centenas de armadilhas,
Em ferro não aquecido.

Trepava no campanário,
Para o sino ir tocar,
Fazia grande calvário,
Para o badalo puxar.

Com bugalhinhos eu fiz,
Um pequenino rosário.
Ainda hoje eu lembro,
Esse rico relicário.

Sentia febre nas veias,
Rasguei penachos na cama,
Andei descalço e sem meias,
Pisei cascalho e lama.

Saboreei o aroma,
Da viçosa Primavera,
Com ela minha alma sonha,
Voltar atrás aí quem me dera!

No Inverno tinha frio,
No verão sentia calor.
Perdi esse desafio,
Por não ser um bom pastor.

Sou capaz de distinguir,
O melro da cotovia:
O melro canta de noite,
A cotovia de dia.

Conheço arbustos do campo,
O tojo e a trovisca:
A trovisca pelo que amarga,
O tojo pelo que pica.

Também conheço a margaça,
Essa erva venenosa,
Tudo queima, tudo assa
Numa pele fina e mimosa.

Conheço o medronheiro,
O sabugueiro e a nogueira,
O carvalho e o castanheiro,
O freixo e a figueira.

No campo vi crescer trigo,
Vi muito mato arder,
Vi um cigano perdido,
Por amor de uma mulher.

Pelos campos de Vinhais,
Alegre vida eu passei,
Por entre urzes e estevais,
A minha vida deixei.

Pelos campos de Vinhais,
Joguei, perdi a corrida,
Pelo campos eu deixei,
Pedaços da minha vida.

Não me lembrava da História,
Muito menos da Geografia,
Só me vinham à memória
Os jogos do dia-a-dia.

Vi courelas de trigo
E centeio semeado,
Onde o restolho palhudo,
Por meus pés era calcado.

Adorava ver as estrelas
No alto céu a brilhar.
A luz do brilho delas,
Enfeitiçava o meu olhar.

Conheço a madressilva,
Poejo e massanela,
Orégão e a carqueja,
Alfazema e fel da terra.

Ouvia cantar as árvores,
Pelos bicos dos passarinhos,
Que soberbas melodias,
Eu ouvia pelos caminhos!

Deitado à sombra dos freixos,
Sobre tapetes viçosos,
Ouvi o murmúrio das águas,
Em riachos sinuosos.

Com quinze anos de idade,
Um rude golpe sofri,
De um momento para o outro,
A minha vista perdi!

Linda cidade do Porto,
Não posso pensar em ti.
No hospital de São João,
A minha visão perdi!

Linda cidade do Porto,
Não posso em ti pensar.
Quando me vens à lembrança,
Fico quase sempre a chorar.

Com os olhos rasos de água,
Olhei o sol e não o vi.
Imaginem a mágoa,
Que naquele momento senti.

O meu mal já não tem cura,
É bem duro o meu viver,
Vou vivendo na penura,
Penando até morrer.

Pelos campos eu deixei,
Pedaços da minha vida,
Foi no campo que eu encontrei,
Esta coragem emudecida.

Pelos campos de Vinhais,
Perdi minha juventude,
Nunca mais serei pastor,
Porque não tenho saúde.

Nove anos e mais um dia,
Em casa estive fechado,
Ao cabo de nove anos,
Para Lisboa fui levado.

Fui levado para Lisboa,
Para o braille aprender,
Ao cabo de quinze dias,
O braille sabia ler.

Deus tirou-me a vista um dia!
Mas deu-me outra sorte,
Outro ser deu-me este dom de poeta,
Para a minha vida escrever.

Sonhei um sonho tão lindo,
Dos melhores que a vida tem,
Sonhei que era poeta,
Afinal não sou ninguém!

Esse sonho que sonhei,
Era lindo de verdade!
Não era vivido no campo,
Mas numa linda cidade.

Esse sonho que sonhei,
Nos meus tempos de criança,
Não o consegui em Lisboa,
Mas sim no Porto e em Bragança.

Na cidade de Bragança
Fui um estudante falado.
Esse sonho que sonhei,
No meu peito anda guardado.

Andava sempre acompanhado,
Com colegas que eu não via.
Por não ver seu lindo rosto,
Meu coração muito sofria.

Foi graças ao meu trabalho
E à minha força de vontade,
Depois de concluir a escola,
Entrei na Faculdade.

Campo Alegre, campo Alegre,
De ti não me esquecerei!
Na Faculdade de Letras,
O meu curso tirei.

Em Trás-os-Montes nasceu,
Este historiador bacano,
É natural de Nuzedo,
Tem por nome Luciano.

Quem havia de dizer,
Que depois de ser pastor,
Mais tarde havia de ser,
Um futuro historiador!

Passei fome e frio,
Pelo monte atrás do gado.
Meu passado sombrio,
Vai ficar perpetuado.

No campo encontrei lobos,
Na cidade lobos encontrei.
Mas sempre consegui vencer,
Esses lobos com quem lutei.

Eu sempre consegui vencer,
Vitória após vitória,
Eu sempre ouvi dizer,
Dos fracos não reza a História.

O meu passado foi duro,
Cansativo e maroto.
Vou encarar o futuro,
Com um sorriso no rosto.

Com muita fé e esperança,
Na Faculdade entrei.
Para ser aquilo que hoje sou,
Só Deus sabe o que passei.

Este ano acabei,
De me licenciar em História!
É o primeiro doutor,
Que tem a minha parvónia.

Muita gente me elogia!
Eu sei muito bem porquê!
É por eu ver ao longe,
Coisas que ao perto alguém não vê.

Ser cego e conseguir
É um caso de louvar.
Com muita força e trabalho,
Consegui um curso tirar.

Acabei então o curso!
E para, de vez em quando,
Não fazer figura de urso,
Continuo sempre estudando.

Pelos campos de Vinhais,
Guardei as ovelhinhas.
Hoje de novo sou pastor,
De meninos e meninas.

Sou pastor dos meus meninos,
Com quem falo de vez em quando!
Cada vez ficam mais sabidos,
Nas lições que lhe vou dando.

Ao cantar da Primavera,
Tive amores e não amei,
Pensava colher flores,
Só espinhos encontrei.

O destino assim quis,
Que eu fosse historiador,
Em tudo me sinto tão feliz,
Desastrado no amor.

Tenho duas namoradas,
Amiguinhas e leais.
Se da música gosto muito,
Da história muito mais.

Sou a história, sou a música,
Sou a noite e a madrugada,
Eu sou aquilo que sou,
Eu sou tudo e não sou nada.

O vendaval já passou!
Continuo a ser quem era!
O meu coração chorou,
Ao cantar da Primavera.
Ferreira Augusto