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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ao Deus Menino

E nós somos os pastores,
E nós vimos a Belém,
Vimos a ver o menino,
Que a nossa senhora tem.

Nós vimos de muito longe,
Temos jornadas que andar,
Deixamos o gado só,
Não nos podemos demorar.

Vimos a ver o menino,
Com mui grande devoção,
Vimos a ver o menino,
Do sagrado coração.

Já nasceu o Deus menino,
Na cidade de Belém,
Numa lapeda escondida,
Lá nos montes de Hebrém.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010


É Natal!


Tocam os sinos, é natal,

As noites têm mais luz!

Criança em casa vê,

Prendas que trouxe o Jesus.


Tu que és criança nobre,

E tens brinquedos para estragar.

Não vês aquele menino pobre,

Que nada tem para brincar.


Há muita criança rica,

Que vive com satisfação.

Criança que é pobrezinha

Não pode ter natal, não!


Para ele não há natal,

O que vê no sapatinho,

Muita tristeza e dor,

Em vez de amor e carinho.


Menino que não tem escola,

Criancinha sem idade,

Garoto que pede esmola,

Pelas ruas da cidade.


É assim o Natal seu,

Em cada manhã, em cada dia.

Para ele o Jesus do Céu,

Não passa de uma fantasia.


Desejo às criancinhas,

Deste nosso Portugal.

Que tenham muitas prendinhas,

Este ano pelo natal.


Natal é palavra mágica,

De um expressão delicada.

Natal para alguns é muito,

Para outros não é nada.


Desta cidade querida,

Lanço o meu grito profundo!

Nesta quadra festiva,

Aos homens de todo o mundo.


Que sejam todos amigos,

Amigos como irmãos.

Que deixem de atirar tiros,

Que haja aperto de mãos.


Que acabe o ódio e a vingança,

Neste mundo de ilusão.

Façam as armas perdidas,

Ninguém mate o seu irmão.


Enquanto as armas malditas,

Não deixem de matar.

Não pode haver Natal não,

Em cada rosto em cada olhar.


Ferreira Augusto

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O bom filho

Há hora da ceia na pedra do lar crepitava forte fogueira, em toda a casa havia muitos lugares vazios e pairava o luto da mãe que tinha criado doze filhos e tinha falecido à pouco tempo.
Todos tinham partido, só José tinha ficado com eles, por ter amor ao pai que cada vez ficava mais velho e triste. Sentados à mesa José pergunta: - Pai não come?
- Comer queria eu, mas tenho um nó que me atravessa a garganta e não consigo engolir. - Respondeu o pai.
- Vá coma pai, porque o corpo não tem raízes na terra. Disse-lhe José.
- Eu não consigo comer, anda-me a morder na consciência o que será de mim, amanhã tu casas e vais embora, se ao menos Deus do céu me levasse para junto da tua mãe! Exclamou o pai.
- Nada disso meu pai, eu se me casar o senhor ficará sempre comigo! Terei sempre pão para lhe dar a comer e um cobertor para o agasalhar. Disse-lhe José.
- Obrigado meu filho, já estou melhor! És um bom filho, Deus vai-te pagar.
Quando se foram deitar, dava gosto de ouvir o pai a agradecer a Deus por lhe ter dado um filho tão bom e o filho a pedir a Deus que lhe desse saúde para ajudar o seu pai.
A pingada

Era uma vez uma senhora que vivia na sua casinha muito humilde.
Num inverno de muita chuva começou a chover-lhe em casa. Quando o tempo melhorou chamou um carpinteiro, para subir ao telhado para lhe tirar a pingada.
Assim foi, o carpinteiro lá foi, subiu ao telhado e lá andou algum tempo.
Quando desceu do telhado a senhora perguntou-lhe se tinha tirado a pingada e ele respondera-lhe que sim.
Passado algum tempo voltou a chover e em casa da senhora voltou a chover mas em outro lado.
E ela pensou: - O carpinteiro tirou-me a pingada de um lado, mas meteu-ma em outro!!!!
Quando encontrou o carpinteiro voltou a dizer-lhe que precisava que lhe voltasse a subir ao telhado pois já tinha outra pingada.
E lá voltou o carpinteiro, subiu ao telhado e lá andou algum tempo.
Feito o serviço foi-se embora.
Quando voltou a chover novamente voltou também a chover em casa da senhora mas em outro lado da casa.
Ao ver aquilo a senhora voltou a chamar o carpinteiro, mas desta vez o carpinteiro não podia lá ir, então mandou o filho em sua vez.
O filho tal como o pai, subiu ao telhado e lá andou algum tempo.
Quando saiu a senhora disse-lhe: - Então meu rapaz tiraste-me a pingada?
- Penso que sim, respondeu o rapaz.
Quando o rapaz chegou a casa pergunta-lhe o pai: -Então meu filho que tal te saíste com as pingadas do telhado?
- Desta vez pensou que vai ficar bem durante algum tempo. Respondeu rapaz.
- Meu brutinho, deixavas-lhe a pingada de outro lado, assim já não vamos ganhar mais dinheiro!!!!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Minha faquinha meu pão

Era uma vez um lavrador pobre e com muitos filhos que fora trabalhar para a quinta de um senhor, nobre e rico mediante o pagamento de uma renda anual para poder cultivar as terras.
Um certo ano as condições climatéricas não favoreceram o cultivo das terras e o lavrador não tinha dinheiro para pagar a renda, isto durou durante alguns anos, pois se um ano vinha mal o seguinte era ainda muito pior, endividando-se cada vez mais.
Para solucionar esta situação de divida o lavrador tinha uma filha e o dono das terras tinha um filho da mesma idade o lavrador pensou então casar a filha dele com o filho do dono das terras e assim a divida diminuiria.
E assim foi.
Passados alguns tempos de casados a filha do lavrador foi visitá-lo, e este perguntou-lhe: Então filha como vai a tua vida de casada?
- Pai estou um bocado triste, porque o meu marido sempre que me vê partir o pão, não se cala com esta conversa “Minha faquinha meu pão, que me saíste do coração”. Disse a filha
- Minha filha para a próxima vez que ele te diga essas palavras tu vais dizer-lhe: “Mal o aja os anos ruins e os maus temporais, que fazem casar as filhas de bons lavradores, com filhos de maus pais.”
E assim fez a filha do lavrador.
Passados alguns tempos voltou a casa do pai e o pai voltou a perguntar-lhe como ia o seu casamento e se o marido ainda lhe dizia as mesmas palavras.
- Sim meu pai, sempre que vou partir o pão lá me diz ele: “Minha faquinha meu pão, que me saíste do coração”.
- Ai sim? Então para a próxima vez que te diga essas palavras tu vais dizer-lhe: “Mal o aja os anos ruins e as más ocasiões, que fazem casar as filhas de bons lavradores com patifes e ladrões”.
E assim foi.
A primeira vez que a rapariga foi partir o pão lá veio ele com a mesma lengalenga e ela muito despachada respondeu-lhe: ““Mal o aja os anos ruins e as más ocasiões, que fazem casar as filhas de bons lavradores com patifes e ladrões.”
O que foi remédio santo e o marido nunca mais voltou a dizer as mesmas palavras.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O enxadão

Um certo dia um lavrador, saiu com o seu carro e com as suas vacas para ir buscar uma carrada de torgos e levava um enxadão para cortar as raízes dos torgos e sacudir a terra.
Quando carregou o carro de torgos deitou o enxadão para cima dos torgos. Ao regressar à aldeia caminhando à frente do carro das vacas o enxadão caiu sem ele dar conta a meio do caminho.
Passados alguns minutos, pelo mesmo caminho caminhava um cigano, ainda ia longe e avistou o enxadão que caiu no meio do caminho, aproximou-se olhando de lado e dizendo: - Deixa-te estar enxadão, nem o meu corpo nasceu para ti, nem tu foste feito para a minha mão, deixa-te estar enxadão!!! E continuou a sua caminhada deixando o enxadão no mesmo sítio.
O rapaz e os bois

Um certo dia um rapaz foi levar os bois a beber a um tanque, pelo caminho encontrou um padre que por ali passava.
O padre disse: - Meu rapaz que rica junta de bois aqui tens, que ricos animais!!!
- Eu só conheço três espécies de animais, respondeu o rapaz!!!
- Mas estes que tu tens, tão gordos e bem tratados são de certo uns valentes animais, disse o padre.
- Olhe seu padre eu só conheço três tipos de animais, uma cabra, que tem uma loja bem estrumada e dorme sempre numa manjedoura, numa escada, ou em cima de um pedra, um burro que se farta de apanhar erva e come palha e o terceiro é um padre que reza todos os dias pela alma dos outros e a dele vai para o inferno.
- Obrigado, meu rapaz obrigado e foi-se embora.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O mestre das diabruras

Era uma vez um rapaz, chamado Quiquo, que desde miúdo não fazia outra coisa se não diabruras.
Ouvindo dizer que os gatos caiam de pé, mesmo atirados de grandes alturas, o Quiquo lembrou-se de pegar no gato da avó e subiu a um muro para atirar com o gato e certificar-se se era verdade que os gatos caiam de pé!!
Estando em cima do muro atirou o gato para o chão, e na verdade o gato caiu de pé e fugiu.
O Quiquo ao ver o gato a fugir com a risada acabou por cair do muro abaixo magoando-se.
Ao levantar-se, pensou: - Realmente os gatos caiem de pé, mas o mesmo não aconteceu comigo!!!
O rapaz e o caldo

Era uma vez um rapaz, que andava à procura de um amo/patrão.
Chegando a uma aldeia perguntou se ali alguém precisaria de um criado.
Alguém lhe informara que sim, que havia um senhor que estava a precisar de um criado.
E lá foi o rapaz bater à porta do dito senhor.
Quando a porta se abriu o senhor perguntou-lhe: Que desejas meu rapaz?
- Disseram-me que o senhor estava a precisar de um criado – Disse o rapaz.
- Preciso sim, tu queres cá trabalhar? Perguntou o senhor.
- Quero pois, respondeu o rapaz.
No primeiro dia de trabalho, à hora de almoço, serviram-lhe o caldo muito quente e ele não comia.
Ao ver aquilo o patrão perguntou-lhe porque motivo não comia.
E o rapaz respondeu-lhe que estava muito quente o caldo.
- Deita-lhe água rapaz, disse-lhe o patrão.
E o rapaz assim fez, mas pensando com os seus botões – Este patrão não me serve!
Acabou o mês e foi-se embora.
Foi ter a outra aldeia onde perguntou se ali haveria alguém que estivesse a precisar de um criado.
Alguém lhe disse que sim e indicou-lhe a referida casa, onde ele foi bater à porta.
Quando a porta se abriu o senhor perguntou-lhe: Que desejas meu rapaz?
- Disseram-me que o senhor estava a precisar de um criado – Disse o rapaz.
- Preciso sim, tu queres cá trabalhar? Perguntou o senhor.
- Quero pois, respondeu o rapaz.
Logo no primeiro dia de trabalho, à hora de almoço, também lhe serviram o caldo muito quente e ele não comia.
Ao ver aquilo o patrão perguntou-lhe porque motivo não comia.
E o rapaz respondeu-lhe que estava muito quente o caldo.
- Olha meu rapaz faz como eu deita-lhe pão!
E o rapaz assim fez, mas pensando com os seus botões – Este patrão ainda não me serve!
Acabou o mês e foi-se embora.
Foi ter a outra aldeia onde fez a mesma coisa, perguntou a alguém se haveria algum amo a precisar de um criado!!
Alguém lhe disse que sim e indicou-lhe a referida casa.
E lá foi ele, bateu à porta e quando a porta se abriu alguém lhe perguntou o que desejava.
- Disseram-me que o senhor estava a precisar de um criado – Disse o rapaz.
- Preciso sim, tu queres cá trabalhar? Perguntou o senhor.
- Quero pois, respondeu o rapaz.
E lá ficou, no primeiro dia de trabalho à hora de almoço, voltaram-lhe a servia o caldo muito quente e ele assim não comia.
Ao ver aquilo o patrão perguntou-lhe porque motivo não comia.
E o rapaz respondeu-lhe que estava muito quente o caldo.
- Olha meu rapaz faz como eu deita-lhe vinho!
E o rapaz assim fez, mas pensando com os seus botões – Este patrão é que me serve, sim senhora!!! E ali ficou a trabalhar contentíssimo da vida durante longos anos.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

O ancião e o burro

Numa pequena aldeia vivia um casal de anciãos que se dedicava à criação de gado e à agricultura, eram tão humildes e sinceros, que na aldeia não havia outro casal assim.
Um certo dia o homem que fazia parte do dito casal encontrou-se com outro ancião lá da aldeia e começaram a conversar sobre o ambiente familiar e sobre as suas mulheres.
- Eu quase todos os dias tenho de ralhar com a minha mulher disse o ancião.
- Eu já há vinte anos que estou casado com a minha mulher e durante estes anos nunca tivemos uma discussão, damo-nos tão bem e somos muito amigos. Mas esta noite vou arranjar um motivo para ralhar com ela – Disse o homem do casal perfeito.
Foi para casa e ao meter o burro no estábulo, tentou meter o burro ao contrário gritando: - Burro entra no estábulo, maldito do burro, não quer entrar, está teimoso o raio do burro.
A mulher ao ouvir aquilo, foi ver o que se passava.
- Então marido o que se passa?
- O raio do burro não quer entrar no estábulo. Respondeu o marido.
- Casca-lhe marido, casca-lhe, nem que agora entre de cu, já bastantes vezes entrou a direito!!! - Disse a mulher.
Nem mesmo assim o casal se conseguiu chatear.
Frei João sem cuidado

Um certo dia o rei encontrou o Frei João sem cuidados e para o meter em aflição disse-lhe: - Frei João daqui a dois dias tens de ir à minha presença, mas não podes ir nem a pé, nem a cavalo, nem calçado, nem descalço, nem vestido, nem despido.
O Frei João ficou muito intrigado!! E Pensou – Como é que eu me vou safar desta!!!!
Passou um dia e enquanto caminhava, tristonho encontrou um amigo que lhe perguntou: - Então frei João que se passa, andas com um ar tão triste?
- É que o rei quer que amanhã vá à sua presença, mas não posso ir nem a pé, nem a cavalo, nem calçado, nem descalço, nem vestido, nem despido.
- Vou-te dar uma ideia Frei João, na minha quinta tenho lá uns carneiros e eu vou-te emprestar um para ires à presença do rei só tens que ir com um pé pelo chão e outro no ar e deste modo nem vais a pé, nem a cavalo, por outro lado Frei João vais apenas calçar uma bota, o outro pé irá descalço e da cinta para cima vais despido!!! - disse-lhe o amigo.
Assim foi no dia seguinte o Frei João foi à presença do rei.
E foi então que o rei deu-lhe os parabéns: - Frei João muito bem, nunca pensei que tivesses uma inteligência assim, chegas-te para mim!!!
Quadra Popular:

Castanheira dá castanhas,
Azedas que até dá a tosse,
Terá de ser enxertada,
Para dar castanha doce.
Quadra Popular:

Arraiais e procissões,
Touradas, fado e bola,
São algumas diversões,
De um povo que pede esmola.
Quadra Popular:

Alargai-vos raparigas,
Que o terreiro é estreito,
Quero dar duas voltinhas,
Quero-as dar a meu jeito.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Quadra Popular:

Daqui a Bragança é longe,
São mais de quinhentas léguas,
Fui lá ver o meu amor,
Nem me pareceu uma légua.
Quadra Popular:

Salgueiro de ao pé do rio,
Cortado à mão canhota,
O tomar amores é fácil,
O deixa-los é que custa.
Quadra Popular:

Quem quer bem sempre se encontra,
Eu não falo dessa arte,
Eu não gosto da tristeza,
E encontro-a em toda a parte.
Quadra Popular:

Pouco me importa da vida,
Muito menos meu viver,
Só me importa do amor,
Porque ele é o meu bem querer.
Quadra Popular:

Amei-te com desespero,
Nunca mais ninguém te quis,
Agora que eu não te quero,
Vejo a figura que fiz.
Quadra Popular:

O amor é uma coisa,
Que não tem definição,
Trago escrito na lousa,
Na tampa do coração.
Quadra Popular:

Trago no meu peito um altar,
Que há muito construi,
Para o meu coração rezar,
Constantemente por ti.
Quadra Popular:

Estou rouquinho, estou rouquinho,
Não foi de beber vinagre,
Foi de falar ao amor,
Novinho sem ter idade.
Quadra Popular:

Por baixo de água está lodo,
Por baixo do lodo areia,
Todas as mulheres são firmes,
Só a minha me falseia
.
Quadra Popular:

Com um A se escreve amor,
Com um I se escreve idade,
Com um B se escreve o nome,
Que é a tua especialidade.
Quadra Popular:

O amar-te foi um sonho,
Beijar-te foi realidade,
Foi enquanto eu não tive,
Amor da minha vontade.
Quadra Popular:

Anda ai um pardaleco,
Por mim a arrastar a asa,
Ele já nem sequer tem força,
Para a que tem lá em casa.
Quadra Popular:

Caçarelhos já foi Vila,
Miranda nobre Cidade.
Vimioso ladroeira,
Como todo o mundo sabe.
Quadra Popular:

Abençoados pedreiros,
Que fizeram aquela janela,
Vou deixar de amar a Deus,
Para amar a quem está nela.
Quadra Popular:

Óh Rosa abre-me a porta,
Se não entro pelas telhas,
O menino já esta feito,
Só lhe faltam as orelhas.
Quadra Popular:

Óh Rosa abre-me a porta,
Se não entro pela janela,
Quero ver a tua cama,
Se cabemos os dois nela.
Quadra Popular:

No cimo daquele outeiro,
Vou construir meu castelo,
Para tu me contemplares,
Como eu te contemple-lo.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O lavrador e o nabo

Numa pequena aldeia vivia um lavrador que tinha sempre muito orgulho nos nabos que cultivava, pois na aldeia nunca nenhum dos outros lavradores conseguiam ter nabos tão grandes como os dele.
Deste modo os restantes lavradores andavam com a pulga atrás da orelha para descobrir o que o lavrador fazia para ter aqueles nabos.
No ano seguinte o lavrador encontrou-se doente, acabando por ficar cego!
Um dos outros lavradores um dia passou pelo naval do lavrador cego e arrancou um dos seus nabos , de seguida foi a casa do lavrador cego e disse-lhe: - Óh António, olha se queres ver, não é só no teu naval que há nabos grandes eu também os tenho bons olha se queres ver, passando-lhe o nabo para as mãos para que o lavrador cego pudesse sentir.
O cego apalpou, apalpou e respondeu: - Ou este nabo é meu, ou sete arados levou a terra que os deu.
Foi então que os outros lavradores descobriram qual a razão de o lavrador ter nabos bons.
O lagarto, a cobra e o pastor

Era uma vez um pastor, que estava a guardar o seu rebanho na altura do Verão. Chegando a hora do meio-dia levou o rebanho para a sestear à sombra de uma arvoredo.
Ao meio da tarde o pastor adormeceu e uma cobra vendo o pastor a dormir com a boca aberta, pensou em entrar para dentro da boca do pastor!!! Entretanto um lagarto e este ao ver aquilo, pensou em salvar o pastor, dando-lhe sapatada com o rabo ao pastor, para acordar e assim foi.
Quando acordou foi tal o espanto do pastor ao ver uma cobra mesmo ao seu lado que decidiu matá-la com o cajado que tinha junto de si.
O lagarto ao ver o pastor a matar a cobra saltava radiante e feliz!!!
A festa o diabo e os garotos

Numa aldeia onde era costume realizar-se uma festa na altura do Verão, num certo ano o diabo pensou ir também a essa festa.
Pelo caminho encontrou já um grupo de pessoas que já vinham da festa e o diabo perguntou-lhes: - Então já vêm embora da festa?
- Está fraca, só há lá garotos, responderam as pessoas.
Dito isto o diabo ficou na duvida se iria à festa ou não, de qualquer modo decidiu ir, mas para não ser visto pelos garotos, meteu-se num buraco de uma parede e lá ficou algum tempo a observar a festa.
Entretanto os garotos pensaram qual deles conseguiria meter uma pedra primeiro no buraco que a parede tinha e onde estava o diabo escondido.
As pedras começaram a chover para o muro, o diabo aflito disse: - Nem aqui me deixam estar sossegado, raios partam os garotos!!! E foi-se embora.
Frei João sem cuidados

Num pequena cidade vivia o Frei João sem cuidados.

Um dia o rei encontrou-o e disse-lhe: - Frei João tens de adivinhar três coisas: quanto pesa a lua? Quantos peixes há no mar e o que eu penso!!! Se não mando-te matar. Tendo lhe dado um prazo e uma hora.
Posto isto o rei foi-se embora deixando o Frei João pensativo!!
Passaram-se alguns dias e o Frei João continuava a pensar nas perguntas que o rei lhe tinha feito!!!! Foi então que encontrou o moleiro.
Ao ver o Frei João tristinho e diferente o moleiro perguntou ao Freio João: - Que se passa consigo Frei João???
- Ando a pensar numas perguntas que o rei me fez e se não tiver resposta para elas daqui a uns dias manda-me matar!!!! – Disse o Frei João.
- Então que perguntas foram essas Frei João? – Perguntou o moleiro.
- Tenho de saber quanto pesa a lua, quantos peixes há no mar e o que o rei pensa!!!! – Disse o Frei João.
- Não se preocupe com isso, pois eu próprio irei ter com o rei no dia e hora combinada e responderei às três questões, só tem de me emprestar o seu fato, para o rei não me reconhecer!!!
E assim foi, no dia e hora combinada lá foi o moleiro ter com o rei, fazendo-o pensar que era o Frei João.
- Então Frei João já trazes as respostas para o que te perguntei – Perguntou o rei
- Sim, vamos lá ver!!! (disse o Frei João que era o moleiro).
Diz-me lá então quanto pesa a lua? - Perguntou o rei
- A lua pesa quatro quartos (respondeu o Frei João que era o moleiro).
- Muito bem, muito bem , disse-lhe o rei!
E então agora quantos peixes tem o mar? Perguntou o rei.
- Isso eu não consigo, porque o senhor rei também ainda não fechou os rios que desaguam no mar!!!
- Muito bem, muito bem , disse-lhe o rei!
Então agora diz-me lá o que eu penso!!! Perguntou o rei.
- Pensa que está a falar com o Frei João sem cuidados e está a falar é com o senhor moleiro!!!!!

Um pouquinho da vida do Luciano....

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2010


Carteira/bolsa feita pelo Luciano com fio sizal

Carteira feita pelo Luciano com fios de fardos reutilizados

Luciano a fazer carteiras em macramê!

Covivio na Santa Casa da Misericórdia (a jogar dominó)


Luciano a jogar dominó (a fazer o reconhecimento das pedras do dominó)

Luciano na Santa Cada da Misericórdia de Bragança a jogar dominó com os amigos

Luciano na Santa Cada da Misericórdia de Bragança a jogar dominó com os amigos

terça-feira, 26 de outubro de 2010


Luciano e amigos no jardim Municipal em Bragança



Luciano trajado a rigor junto da estatua de homenagem aos correios de Bragança

Luciano e amigos no centro de Bragança

Luciano trajado a rigor no Polis em Bragança


Luciano e amigo no Polis em Bragança


O Pedro

Era uma vez um casal de anciãos agricultores que eram portadores de riqueza a nível da agricultura e criação de gado.
Um certo dia a mulher disse para o marido: - Vai à Vila a ver se arranjas outro criado, pois o nosso vai se ausentar para cumprir o serviço militar, mas tem cuidado, antes pergunta-lhe o nome, porque se for Pedro eu não aceito “Pedros”.
E assim foi o marido no dia seguinte foi à Vila à procura de um novo criado. Ao longe avistara um miúdo que tinha um saco com ele.
Aproximou-se do rapaz e perguntou: - Que fazes tu meu rapaz?
- Ando à procura de patrão, respondeu o rapaz!
- Ai andas? Olha lá tu não queres vir trabalhar para mim? – Perguntou o ancião.
- Quero sim, respondeu o rapaz.
- Mas espera, antes de mais diz-me o teu nome! Perguntou-lhe o ancião.
- Eu chamo-me Pedro, disse o rapaz.
- Oh que desgraça a minha, a minha mulher não quer Pedros lá em casa, tenho que ir à procura de outro criado! Disse o ancião.
E lá foi ele, procurou aqui, procurou ali, mas nada de encontrar um novo criado. Até que de novo ao longe avistou outro rapaz, aproximou-se dele e voltou a perguntar:
- Que fazes tu meu rapaz?
- Ando à procura de patrão, respondeu o rapaz!
- Ai andas? Olha lá tu não queres vir trabalhar para mim? – Perguntou o ancião.
- Quero sim, respondeu o rapaz.
- Mas espera, antes de mais diz-me o teu nome! Perguntou-lhe o ancião.
- Eu chamo-me Pedro, disse o rapaz.
- Oh que desgraça a minha, nesta terra só há Pedros. Embora a minha mulher não os queira vou ter de levar um criado chamado Pedro!!
E lá foram os dois para casa do ancião.
Quando chegaram a casa o ancião disse para mulher: - Mulher na Vila não havia criados que não fossem Pedros, por isso tive de trazer um Pedro!!
- Já que tem de ser marido, vamos apenas fazer-lhe um contrato até ao cantar do Cuco (fim do Inverno inicio da Primavera)
E assim foi o criado aceitou.
Passado uns tempos a patroa começou a embirrar com o criado e cheia dele disse-lhe que tinha de ir buscar um carro de lenha, da mais torta que encontrasse, se não teria de ir embora.
O Pedro aceitou, no dia seguinte pegou no carro e lá foi ele.
Foi à vinha e com a machada cortou-lhe as cepas todas. Depois voltou para casa com a carrada da lenha para mostrar à patroa.
A mulher toda chateada ao ver as cepas disse para o marido: - Viste marido eu bem te disse que não queria Pedros em casa!!! Este deu-nos cabo da vinha!!!!!
Passados alguns dias voltaram a dizer ao Pedro que tinha de ir buscar um carro de lenha, da mais direita que encontrasse, se não teria de ir embora.
E lá foi o Pedro com o carro à procura de lenha direita.
Dirigiu-se a um pinhal novo que o patrão tinha e tal como com na vinha cortou o pinhal todo. Depois voltou para casa com a carrada da lenha para mostrar à patroa.
A patroa quando viu aquilo voltou a dizer ao marido: - Viste marido eu bem te disse que não queria Pedros em casa!!! Agora deu-nos cabo do pinhal!!!
Passaram-se mais uns dias e de novo a patroa propôs ao Pedro que mete-se a junta das vacas num lameiro com um muro alto, mas não poderia entrar pela única entrada (porta).
E assim foi lá foi o Pedro…matou as vacas, cortou-as aos pedaços e atirou-as por cima do muro já que não podia entrar pela porta.
A patroa ao ver aquilo gritou mais uma vez para o marido: - Viste marido, já nos deu cabo da vinha, do pinhal agora matou as vacas…ainda nos vai matar a nós também!!!
O que vamos fazer???
E o marido propôs mandar-se o Pedro com o rebanho das ovelhas para a serra, onde habitava um gigante que matava todos os pastores.
Assim foi…lá foi o Pedro para a serra, quando lá chegou logo encontrou o gigante que lhe perguntou: - Então meu homem por aqui com o teu rebanho?
- É verdade, os meus patrões mandaram-me para cá. – Disse o Pedro
- Então meu rapaz à noite terás de ordenhar as tuas ovelhas e trazer-me um queijo para o meu jantar, se não serás morto! – Disse o gigante.
Dito isto o Pedro enquanto apascentava o rebanho encontrou um seixo e durante todo o dia arredondou de modo a ficar como um queijo.
Chegada a noite foi ter com o gigante e entregou-lhe o queijo.
- Aqui tem o seu queijo - disse o Pedro ao gigante.
Guloso à primeira dentada o gigante partiu os dentes, não podendo matar o Pedro!!
No dia seguinte o gigante fez outra proposta ao Pedro: - Rapaz hoje e se não quiseres que te mate, pois estou muito furioso contigo, terás de me trazer todas as ovelhas a dançar!!!
Dito isto o Pedro saiu com o rebanho e partiu a cada ovelha a pata da frente.
Quando chegou a noite o Pedro foi com o rebanho ter com o gigante e como as ovelhas tinham uma pata partida, iam todas a dançar e o gigante mais uma vez não pode matar o Pedro.
- Realmente és um pastor inteligente disse o gigante.
No dia seguinte outra proposta o gigante fez ao Pedro: - Meu rapaz hoje a tua tarefa, para que não te mate será trazeres-me todas as ovelhas a rir!!!
E lá foi o Pedro com o rebanho…e com o canivete cortou o lábio de baixo de todas ovelhas.
Quando chegou a noite lá foi o Pedro ter com o gigante e lá iam as ovelhas todas risonhas, com os dente à mostra.
O gigante ao ver aquilo pensou: - Possa lá para este pastor, este dá-me pelas barbas…já chega para mim.
- Vai-te embora meu rapaz, que eu mais não te posso aturar.
E lá foi o Pedro de regresso à aldeia.
Ao vê-lo chegar os patrões pensando que o Pedro estaria morto, não queriam acreditar no que estavam a ver, lá vinha o Pedro à frente do rebanho, com a s ovelhas a dançar e a rir!!!
A patroa disse então para o marido: - Não acredito marido, que ainda o vamos ter de aturar até ao cantar do cuco. Então pensou subir ao sobreiro e cantar como o cuco. E lá foi ela “CUCUCUCUCUCU”.
O Pedro vendo que era a patroa que estava no sobreiro a cantar como o cucu pegou na arma e disse: - Cucas em Fevereiro, cá para baixo do sobreiro, matando a patroa.
A matança do porco

Numa certa aldeia do interior transmontano residia um casal de anciãos muito pobres, que quando chegava a época das matanças do porco, sentiam-se tristes porque não tinham um porquinho para matar, apenas iam às matanças dos porcos de alguns vizinhos.
Isto aconteceu durante alguns anos.
Foi então que um certo dia o marido disse para a sua mulher: - Óh mulher este ano temos de comprar um porquinho, para na altura da matança podermos também fazer a nossa “festinha”!
E assim foi o ano passou e o casal de anciãos cevou o seu porquinho para aquele dia e convidaram os seus vizinhos amigos para estarem presentes e ajudarem a matar o porquinho.
Foi um dia de festa, não faltou de comer nem que beber, o pior foi no final da festa, quando deram conta que do porco pouco restava.
No dia seguinte disse a mulher a lamentar-se para o marido: - Óh homem comeram-nos o porquinho todo!!!
E o homem todo alegre disse: -Não te preocupes, comeram o porquinho todo, mas pelo menos gostei da assussia (convívio).
Não há porco mal desfeito, nem lameiro mal cegado

Numa aldeia do Nordeste Transmontano viviam a comadre e o compadre.
Ambos durante o ano criavam um porquinho para ser morto na altura do natal.
Chegada essa época combinavam o dia para a matança do porco.
O compadre matava o seu porco um dia antes da comadre e esta chamava o compadre para que lhe fosse desmanchar o porco. Quando se ia embora o compadre dizia para a comadre: - Óh comadre não há porco mal desfeito, nem lameiro mal cegado, ora não?
- Não, respondia a comadre, e este ritual aconteceu durante anos, O mais estranho era que os porcos eram mais ou menos iguais mas o compadre fazia muito mais fumeiro do que a comadre.
Intrigada e com a pulga a atrás da orelha no ano que se seguiu a comadre esteve com o olho aberto enquanto o compadre desmanchava o porco dela, foi então que quando o compadre se despediu e disse: - Óh comadre não há porco mal desfeito, nem lameiro mal cegado, ora não?
- Não compadre, o que está mal é o lombo que você leva nos bolsos!- Exclamou a comadre.
E assim a comadre descobriu a razão do compadre fazer mais fumeiro do que ela.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010



EU SOU AQUILO QUE SOU...

Há muita gente que quer,
Saber quem é o Luciano.
Eu, em breve, vou dizer,
Quem é este Transmontano.

Quem é este transmontano,
Todos desejam saber.
Eu sou aquilo que sou,
Mais do que isto não sei dizer.

Eu fui aquilo que fui,
Hoje sou aquilo que sou.
Minha vida do passado,
Só saudade me deixou.

Em Nuzedo eu nasci,
Em Nuzedo me criei,
Em Nuzedo aprendi,
Muito daquilo que hoje sei.

Em Nuzedo eu nasci,
Em Nuzedo fui baptizado,
Em Nuzedo eu cresci,
Pelo monte atrás do gado.

Nuzedo, aldeia bela,
Onde brilha a branca neve.
Foi na aldeia de Nuzedo,
Que passei uma infância alegre.

Nuzedo, aldeia bela,
Como ela outra não vi.
Lindas lições para a vida,
Em Nuzedo aprendi.

Nuzedo, aldeia bela,
A mais linda do Universo.
Lhe rendo minha homenagem,
Nas palavras destes versos.

Era um garoto alegre,
Em tempos que já lá vão,
Mas de um momento para o outro,
Fiquei na escuridão.

Meu coração ficou triste,
Entregue à solidão,
Cada vez que eu me lembro,
São facadas que me dão.


O passado deixou marcas,
Profundas dentro de mim.
Golpes, feridas ingratas,
Ternuras sem terem fim.

Na aldeia de Nuzedo,
Fiz más e boas ações.
Das más guardo segredos,
Em todas as confissões.

Ao padre da Freguesia,
Três vezes me confessei.
Os pecados que eu fazia,
Nunca ao padre revelei.

No meu tempo de rapaz,
Subia e descia ladeiras.
Era um rapaz feliz,
Com as minhas brincadeiras.

Era um garoto alegre,
Na casinha de meus pais,
Essa alegria foi breve,
Logo se desfez em ais.

Lagartos e lagartixas
Acabei com mais de um cento.
Atirei com pedras à chuva,
Dei chicotadas ao vento.

Palmilhei campos abertos,
Áridos e pedregosos,
Esmaguei milhares de insetos,
Bicharocos misteriosos.

Pelos caminhos com pó
O trilho dos carros pisei.
Pelas rochas escarpadas,
Trambolhões e quedas dei.


Quando subia ladeiras,
Da burra abaixo caí.
Ao bater com o c.. no chão
A poeira ao ar subia.

Roubei pássaros do ninho.
Matei lebratos na cama.
Hipnotizei cobras no caminho,
Pesquei peixinhos à cana.

Roubei nozes no passal,
Castanhas na cumeeira,
Matei um pombo trocal,
No freixial da ribeira.

Ao romper da madrugada,
Entrava no arvoredo,
Com o meu cão de guarda,
Dos lobos não tinha medo.

Lavrei em terra molhada
Com charruas e arados,
Guardei ovelhas e cabras,
Corri com lobos do gado.

A pobres subi as calças,
A velhas lenha apanhei,
Quer boas e más ações,
Eu sempre lembrá-las-ei.

Dormi em terra lavrada,
Sobre esteiras no chão,
Vi luas de prata fina.
Nas noites quente de verão.

Tomava banho no rio,
Saltava nos meloais,
Joguei o jogo da reca,
Peão, fito e outros mais.

Calcei socos de madeira,
Vesti capotes de saca,
Fui um segundo Constantino,
“Pastor de ovelhas e vacas.”

Quando guardava as vacas,
Lindas canções cantava,
Que nas tardes de domingo,
A minha mãe me ensinava.


Nos carreiros das formigas,
Espalhava migalhas de pão,
Fugi às vezes da escola,
Para não ler a lição.

Subia em cima dos muros.
Tirei pêras nos pereiros,
Fiz moinhos manuais,
Nas presilhas dos lameiros.

Pelos montes apanhei,
Muitas ervas naturais,
A muita gente eu dei,
Essas ervas medicinais.

Pelos campos apanhei,
Muitas ervas aromáticas,
Pelos campos eu passei,
Alegrias e muitas mágoas.

Á sombra dos arvoredos,
No estio eu gozei,
Sentadinho em penedos,
A minha flauta toquei.

Minha flauta velhinha,
Que aqui estou a recordar,
Também a primeira cantiga,
Que eu aprendi a tocar.

No alto da carvalheira,
O negro cuco cantava.
A sua voz altaneira,
Muito bem eu imitava.

Imitava o negro melro,
O mocho e a perdiz,
O corvo e a boubela,
A rola e a codorniz.

Brincava com caracóis,
Meu brinquedo preferido,
Fiz centenas de armadilhas,
Em ferro não aquecido.

Trepava no campanário,
Para o sino ir tocar,
Fazia grande calvário,
Para o badalo puxar.

Com bugalhinhos eu fiz,
Um pequenino rosário.
Ainda hoje eu lembro,
Esse rico relicário.

Sentia febre nas veias,
Rasguei penachos na cama,
Andei descalço e sem meias,
Pisei cascalho e lama.

Saboreei o aroma,
Da viçosa Primavera,
Com ela minha alma sonha,
Voltar atrás aí quem me dera!

No Inverno tinha frio,
No verão sentia calor.
Perdi esse desafio,
Por não ser um bom pastor.

Sou capaz de distinguir,
O melro da cotovia:
O melro canta de noite,
A cotovia de dia.

Conheço arbustos do campo,
O tojo e a trovisca:
A trovisca pelo que amarga,
O tojo pelo que pica.

Também conheço a margaça,
Essa erva venenosa,
Tudo queima, tudo assa
Numa pele fina e mimosa.

Conheço o medronheiro,
O sabugueiro e a nogueira,
O carvalho e o castanheiro,
O freixo e a figueira.

No campo vi crescer trigo,
Vi muito mato arder,
Vi um cigano perdido,
Por amor de uma mulher.

Pelos campos de Vinhais,
Alegre vida eu passei,
Por entre urzes e estevais,
A minha vida deixei.

Pelos campos de Vinhais,
Joguei, perdi a corrida,
Pelo campos eu deixei,
Pedaços da minha vida.

Não me lembrava da História,
Muito menos da Geografia,
Só me vinham à memória
Os jogos do dia-a-dia.

Vi courelas de trigo
E centeio semeado,
Onde o restolho palhudo,
Por meus pés era calcado.

Adorava ver as estrelas
No alto céu a brilhar.
A luz do brilho delas,
Enfeitiçava o meu olhar.

Conheço a madressilva,
Poejo e massanela,
Orégão e a carqueja,
Alfazema e fel da terra.

Ouvia cantar as árvores,
Pelos bicos dos passarinhos,
Que soberbas melodias,
Eu ouvia pelos caminhos!

Deitado à sombra dos freixos,
Sobre tapetes viçosos,
Ouvi o murmúrio das águas,
Em riachos sinuosos.

Com quinze anos de idade,
Um rude golpe sofri,
De um momento para o outro,
A minha vista perdi!

Linda cidade do Porto,
Não posso pensar em ti.
No hospital de São João,
A minha visão perdi!

Linda cidade do Porto,
Não posso em ti pensar.
Quando me vens à lembrança,
Fico quase sempre a chorar.

Com os olhos rasos de água,
Olhei o sol e não o vi.
Imaginem a mágoa,
Que naquele momento senti.

O meu mal já não tem cura,
É bem duro o meu viver,
Vou vivendo na penura,
Penando até morrer.

Pelos campos eu deixei,
Pedaços da minha vida,
Foi no campo que eu encontrei,
Esta coragem emudecida.

Pelos campos de Vinhais,
Perdi minha juventude,
Nunca mais serei pastor,
Porque não tenho saúde.

Nove anos e mais um dia,
Em casa estive fechado,
Ao cabo de nove anos,
Para Lisboa fui levado.

Fui levado para Lisboa,
Para o braille aprender,
Ao cabo de quinze dias,
O braille sabia ler.

Deus tirou-me a vista um dia!
Mas deu-me outra sorte,
Outro ser deu-me este dom de poeta,
Para a minha vida escrever.

Sonhei um sonho tão lindo,
Dos melhores que a vida tem,
Sonhei que era poeta,
Afinal não sou ninguém!

Esse sonho que sonhei,
Era lindo de verdade!
Não era vivido no campo,
Mas numa linda cidade.

Esse sonho que sonhei,
Nos meus tempos de criança,
Não o consegui em Lisboa,
Mas sim no Porto e em Bragança.

Na cidade de Bragança
Fui um estudante falado.
Esse sonho que sonhei,
No meu peito anda guardado.

Andava sempre acompanhado,
Com colegas que eu não via.
Por não ver seu lindo rosto,
Meu coração muito sofria.

Foi graças ao meu trabalho
E à minha força de vontade,
Depois de concluir a escola,
Entrei na Faculdade.

Campo Alegre, campo Alegre,
De ti não me esquecerei!
Na Faculdade de Letras,
O meu curso tirei.

Em Trás-os-Montes nasceu,
Este historiador bacano,
É natural de Nuzedo,
Tem por nome Luciano.

Quem havia de dizer,
Que depois de ser pastor,
Mais tarde havia de ser,
Um futuro historiador!

Passei fome e frio,
Pelo monte atrás do gado.
Meu passado sombrio,
Vai ficar perpetuado.

No campo encontrei lobos,
Na cidade lobos encontrei.
Mas sempre consegui vencer,
Esses lobos com quem lutei.

Eu sempre consegui vencer,
Vitória após vitória,
Eu sempre ouvi dizer,
Dos fracos não reza a História.

O meu passado foi duro,
Cansativo e maroto.
Vou encarar o futuro,
Com um sorriso no rosto.

Com muita fé e esperança,
Na Faculdade entrei.
Para ser aquilo que hoje sou,
Só Deus sabe o que passei.

Este ano acabei,
De me licenciar em História!
É o primeiro doutor,
Que tem a minha parvónia.

Muita gente me elogia!
Eu sei muito bem porquê!
É por eu ver ao longe,
Coisas que ao perto alguém não vê.

Ser cego e conseguir
É um caso de louvar.
Com muita força e trabalho,
Consegui um curso tirar.

Acabei então o curso!
E para, de vez em quando,
Não fazer figura de urso,
Continuo sempre estudando.

Pelos campos de Vinhais,
Guardei as ovelhinhas.
Hoje de novo sou pastor,
De meninos e meninas.

Sou pastor dos meus meninos,
Com quem falo de vez em quando!
Cada vez ficam mais sabidos,
Nas lições que lhe vou dando.

Ao cantar da Primavera,
Tive amores e não amei,
Pensava colher flores,
Só espinhos encontrei.

O destino assim quis,
Que eu fosse historiador,
Em tudo me sinto tão feliz,
Desastrado no amor.

Tenho duas namoradas,
Amiguinhas e leais.
Se da música gosto muito,
Da história muito mais.

Sou a história, sou a música,
Sou a noite e a madrugada,
Eu sou aquilo que sou,
Eu sou tudo e não sou nada.

O vendaval já passou!
Continuo a ser quem era!
O meu coração chorou,
Ao cantar da Primavera.
Ferreira Augusto